3 de novembro de 2011

O REFERENDO

O primeiro-ministro, olhando o ministro do interior e o ministro da defesa, o olhar gelado como naquele dia em que a democracia fora abalada com a votação em branco de mais de oitenta por cento dos eleitores, disse, Então o presidente da câmara vai realizar um referendo, assim se dá mais uma machadada no nosso sistema democrático, Um referendo, qual referendo, perguntou o ministro da defesa, o que comprava submarinos como quem enche o saco das compras de latas de feijão, ao que o ministro do interior respondeu, Um referendo sobre o estado de sítio democrático que foi imposto à capital, então o colega não sabia, Eu não, eu habituei-me a saber das notícias pelos telejornais, mas um referendo, francamente, uma consulta popular, é algo que pode abalar os fundamentos do nosso ordenamento constitucional, é o abrir de uma caixa de Pandora, o fim da nossa querida moeda única e da nossa união nacional, Presidentes da câmara como este, assentiu o ministro do interior, deviam ser imediatamente escorraçados do seio da democracia, interrogados diante do polígrafo, pestíferos que querem dar voz aos brancosos e arruinar os fundamentos da nossa civilização e de todos os estados de sítio democráticos por nós criados para salvação dos povos, amém.

(Texto apócrifo de um ensaio sobre a lucidez)

1 comentário:

  1. Vou esperar pelo fim da minha leitura para ler este apócrifo. Mas, pelo título, parece-me muito a propósito.
    Abraço.

    ResponderEliminar