RECREIO
Na claridade da manhã primaveril,
Ao lado da brancura lavada da escola,
As crianças confraternizam com a alegria das aves...
A mão doce do vento afaga-lhes os cabelos,
E o sol abre-lhes rosas nas faces saudáveis
-- Um sol discreto que se esconde às vezes entre nuvens brancas...
As meninas dançam de roda e cantam
As suas cantigas simples, de sentido obscuro e incerto,
Acompanhadas de gestos senhoris e graves.
Os rapazes correm sem tino e travam lutas,
Gritam entusiasmados o amor espontâneo à vida,
A vida que vai chegando despercebida e breve...
E a jovem mestra olha todos enlevadamente,
Com um sorriso misterioso nos lábios tristes...
Alberto de Serpa (Porto, 1906-1992),
in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler (1956)