… Alegre pretexto para conhecer Afonso Henriques de Lima Barreto e uma obra extraordinária.
O livro beliscou-me e fez-me cócegas: surpreendeu-me; não conhecia o autor, o título não entusiasmava e depois...
A ironia cínica, cirúrgica, que se agacha debaixo de frases de uma inocência, que parece irrelevante, é admirável. Tudo com uma linguagem de quem está a falar por falar. Que nítida definição dos personagens, sem nos enfastiar com pormenores irrelevantes! Tudo na conta certa.
E a história que suporta o romance, que o poderia limitar no tempo e no espaço, replica-se na atualidade, dando-lhe um valor acrescido.
A sessão tinha-me já revelado uma situação menos comum: nenhum dos confrades se tinha desiludido com a leitura, o que, naturalmente, nem sempre acontece; mesmo os que, como eu, iam a meio da peregrinação. Concordo com a unanimidade da «votação».
E depois, Policarpo, um sonhador, mas que eu apreciei sobremaneira, pelos ideais que o alimentavam e conduziam, mesmo se, em termos práticos, as coisas não harmonizassem com os sonhos; mas seria melhor um mundo de Policarpos ou de abantesmas execráveis que partilhavam o mundo com ele? Ficou o mundo melhor com a prisão de Policarpo e a vitória dos pragmáticos?
Uma vénia ainda ao Ricardo Coração dos Outros e à afilhada que também encontramos, com alguma raridade, na sociedade hodierna.
Livro / autor diferente do habitual: inteligente, com uma visão superior das coisas... parecendo humildemente deambular entre os alarves gananciosos, poltrões, preguiçosos, oportunistas, ignorantes que vão desfilando na trama.
Já recomendei a amigos; recomendo-o a si.
A imagem de apresentação é extraída do filme baseado na obra, que descobri, e está à disposição de quem queira, embora eu tenha sempre receio de ver um trabalho cinematográfico inspirado num bom livro, pelo risco de desiludir.