25 de setembro de 2014

Roteiro Castriano de Sintra


Ferreira de Castro, Jaime Cortesão e Luís da Câmara Reys
Sintra, Setembro de 1952

 O primeiro Roteiro Castriano de Sintra vai realizar-se no dia 26 de Setembro de 2014, no âmbito das Jornadas Europeias do Património.
O encontro terá lugar no pátio do Museu Ferreira de Castro (Rua Consiglieri Pedroso, 34), às 14,30 h. e terminará junto ao túmulo do escritor, na Serra de Sintra.
A acompanhar o percurso, leremos textos do próprio Ferreira de Castro, de Agustina Bessa Luís,  Francisco Costa, Vergílio Ferreira, Jaime Cortesão, José Gomes Ferreira, Luís de Oliveira Guimarães e Jorge Segurado, entre outros.
Recomenda-se calçado confortável.

11 de setembro de 2014

apanhados pela História

Um bom romance sobre o drama dos chamados retornados -- episódio central do pós-revolução de Abril, em que sobressai o choque cultural e consequente rejeição da "Metrópole", que responde em conformidade. Rejeição sentida principalmente por parte dos jovens, que nunca a haviam conhecido ou dela tinham uma ideia distorcida, porque mitificada, nomeadamente nos programas escolares. Decepção que acarreta um sentimento de impotência e revolta. Todos os que não fomos retornados conhecemos e tivemos parentes que o foram. Eu tenho a idade de Dulce Maria Cardoso, e lembro-me.
Esta é, pois, uma história sobre as vítimas da História, as que foram apanhadas no turbilhão em que, por um lado, se intersectaram as contingências da política interna (Guerra Colonial, Revolução e estado de pré-guerra civil, Descolonização) e, por outro, as dinâmicas geopolíticas decorrentes da Guerra Fria. Demasiado para simples pessoas que a pobreza da "Metrópole" ou o espírito de iniciativa fizeram com que fossem atraídas por essas terras de oportunidade. Daí que o mainstream político retornado espelhe uma enorme hostilidade ao 25 de Abril e àqueles que o protagonizaram, militares e políticos. Os doestos com que mimoseavam Soares e Rosa Coutinho, por exemplo, são expressão patética dessa impotência.
Dulce Maria Cardoso trata o tema, não apenas com mestria literária (a chegada ao Aeroporto da Portela é um dos grandes momentos do livro), mas igualmente com sabedoria autoral, pois O Retorno é um livro que se esforça por não tomar posição. Embora se perceba a inelutabilidade histórica -- e, desse ponto de vista, não há um mínimo de justificação do colonialismo, bem pelo contrário --, o romance é feliz ao dar-nos um perfil perfeitamente normal daqueles que vieram de África: na maioria, gente comum apanhada pelo vórtice da História. 
A forma como a autora o veicula é inteligentemente dada através do discurso do protagonista, Rui, um adolescente a quem, nós leitores, permitimos e compreendemos todos os desabafos, todas as invectivas, todas as perplexidades.

4 de setembro de 2014


"Ei tu que fumas, a voz não pertence ao soldado que está de pé, ei tu que fumas, foi outro soldado, talvez o da cara quadrada. Antes de isto ter começado um preto podia levar uma sova por tratar um branco por tu e nem pensar que, ei tu que fumas. Os soldados riem-se e o pai ri-se outra vez. De cima do jipe o soldado da cara quadrada está cada vez mais divertido, chegou a altura de vingar-se do murro que o Lee lhe deu, já não tem os olhos semicerrados, peço a deus que os soldados se vão embora, prometo rezar uma ladainha inteira, das da emissora católica, peço a deus que o tio Zé chegue, o tio Zé anda a ajudar o povo oprimido, tem um cartão e tudo, talvez eles o ouçam e nos deixem em paz, peço que o soldado não se lembre do jogo de futebol nem de mim, peço tantas coisas a deus, mas deus, como sempre, mais surdo que uma porta, os soldados continuam à nossa frente satisfeitos pelo medo que nos provocam."

O RETORNO, Dulce Maria Cardoso   

1 de setembro de 2014

António Lobo Antunes, 72


António Lobo Antunes nasceu a 1 de Setembro de 1942,
em Benfica, Lisboa