11 de dezembro de 2023

POEMAS IMORTAIS - UMA SELECÇÃO POSSÍVEL. XIV

 

TRISTEZA


Mas quem sou eu? Um vulto que a tristeza

Modelou numa nuvem do poente...


Sou irmão da tristeza, irmão das sombras

Das árvores que os ventos enlouquecem

E dançam, de mãos dadas, ao luar.


Sou irmão da tristeza; e em nome dela

Ando por estes montes solitários,

Quando as ermas trindades da noitinha,

Em percutidas baladas de oiro,

Parecem despertar na escuridade

Medos, aparições, visões de outrora...


Divago nos pinhais, à luz da lua,

Sozinho, quando o zéfiro acordado

Aligeira, nervoso, as frias asas,

E ouço através da rama verde-negra

Murmúrios, vozes tristes,

Versos de dor em ritmos de penumbra,

Irmãos daqueles versos que eu compus

Nesse divino instante em que senti

Encher-me, para sempre, o coração

Desconhecida mágoa descendida

Das alturas fantásticas da noite.


TEIXEIRA DE PASCOAIS



21 comentários:

  1. Este paganismo aterrador e encantador, que nele é tão vibrante e genuíno.

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  2. Um poema deliciosamente triste... O poeta sossobra perante a dúvida, a eterna interrogação: Quem sou eu? Para onde vou? Qual o sentido da vida?

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  3. O poeta de "Marânus". Há uns anos estive na sua casa de Gatão, na sala de amplas vidraças onde escrevia contemplando a serra.

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  4. É muito belo. Mas não paira neste poema, neste oculto um pouco daquilo que o poeta tinha predestinado para o que deveriamos ser como colectividade? Quando paira solitário por esses montes e pressente esse outro ...para além da dualidade que possa preexistir neste poema ...concordam? Querem melhorar os conceitos?

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    1. Não creio, mas isso sou eu, um racionalista pouco dado a névoas, mas com metafísica, espero bem...

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  5. Amigo Laurindo, com a depravação de consciências que graça por aí até parece fazer sentido buscar refúgio nos altos espíritos que pensaram a nossa pólis. Em tempos, li “A Arte de Ser Português”, mas já esqueci. Aliás, nem sei onde tenho o livro, devo-o ter perdido. Depois de todas as abordagens e mitos (Quental-Eça-Junqueiro-Pessoa-Pascoaes), qual deles o mais completo (ou complexo), resta-me a lembrança de algumas coisas de Eduardo Lourenço n´ “O Labirinto da Saudade”. O Pascoaes está lá, mas não sei que diga… Ontem vi toda a entrevista do 1º ministro em gestão: deu para seguir. O pior foi o friso de bonecos e comentadores que vieram de seguida. Para sanear a mente tive de mudar para o canal Mezzo. Estou agora com a Sic Notícias e apareceu-me a Marta Moreira, correspondente em Nova Iorque. Essa sim, gosto muito de a ver. E também gosto do poema, claro.

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    1. «A Arte de Ser Português» acho-o intragável. Prefiro-lhe o nevoeiro em verso... Essa poetisa tenho de conhecer; mas é mais fácil eu ver a tv do correio da manha do que a sic-notícias.

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  6. Quando puder, hei de corrigir o apelido do poeta. Qual Pascoais? Nem parece o verdadeiro, de Amarante...

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    1. Agora já ´tá...Escrevo sempre com i, por embirração.

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    2. É bom respeitar a 'essência' de cada um, até para evitar confusões... Se, pensando no prolífico cineasta, escever Manuel de Oliveira, alguns irão ao baú da memória, e pensarão num velho campeão de atletismo; outros, ficarão de dedo no queixo, a folhear o álbum...

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    3. Não há aqui nenhum desrespeito ao Pascoaeis, era o que me faltava. Aliás mutos escrevem com a ortografia actualizada (reconheço a minha contradição), é o caso do Óscar Lopes, por exemplo, que por acaso não o apreciava muito, não sei se é essa a razão.

      Por norma actualizo a ortografia dos nomes, excepto nos meus contemporâneos, quando, propositadamente assim o usaram: Sophia de Mello Breyner A., António Barahona, Tomaz de Figueiredo, etc. Fui agora confirmar que o Pascoaeis usou o 'e' mesmo depois da reforma ortográfica que alterou o seu nome. Eu faria o mesmo, e acho que segundo esse critério, ele terá direito ao seu 'e'. Mas o "agora já tá", tem que ver com a etiqueta: uma vez escrita, o mesmo post não aceita alterações, segundo a minha experiência.

      A questão ortográfica dos nomes tem que se lhe diga, porém. Antes de o Manoel de Oliveira ter explodido nos seus planos parados, toda a gente escrevia Manuel de Oliveira, basta ir à imprensa da época. Mas claro que depois tornou-se impensável.

      Eu actualizo, ao contrário doutros: não escrevo Raúl Brandão (que o estúpido corrector deixa passar), nem Saúl Dias, ou Dordio Gomes, como continuam a fazer alguns; como não escrevo Eça de Queiroz nem Camillo Castelo Branco ou Julio Diniz (o nome da minha rua é um misto: Rua Júlio Diniz, ou seja: nem carne nem peixe). Creio que esta minha contradição em ser contra os acordos ortográficos a modernizar a grafia dos nomes se deve ao facto de os nomes antigos na ortografia coeva serem quase irreconhecíveis, por exemplo Fernam Lopez ou Nuno Gonçaluez (nunca tinha pensado nisto). E quanto mais antigos mais se nota: o Camões já foi Luis, Luiz e Luís... e o Eça de Queirós, o Ferreira de Castro ou o Régio, Joze Maria...

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    4. Nem isso (do desrespeito) me passou pela cabeça. Foi apenas um fait divers, um glosar do tema...
      E a propósito devo dizer que há casos em que a fidelidade à grafia do registo acaba por ser opção de duvidoso gosto. Como algumas senhoras a quem puseram há muitas décadas o nome de Lourdes e que persistem em escrever Lourdes, que, em português se lê assim mesmo: Lourdes

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    5. Caro, não é só no aeroporto que não conseguimos assentar... Quando o Garrett publicou o «Camões», em 1825, avisou mais ou menos nestes termos: A ortografia... é a do autor -- reservando-se o direito de usar a que melhor lhe parecesse, enquanto a Academia não se resolvesse a fixar uma...

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    6. E já agora, falando de Manoeis e Pascoaes, ainda há pouco testemunhei uns bons feitos de um Manoel português, um grão-mestre da ordem Malta e autoridade máxima do arquipélago pelos 30-40 de setecentos... muitos saberão de quem falo. Deixou o none nas mais importantes obras do país.

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    7. E esse cumpria com a ortografia da altura. O Ferreira de Castro fala dele nos «Pequenos Mundos».

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    8. Ó caríssimo, Manuel, mas primeiro António: António Manuel de Vilhena, eleito grão-mestre da Ordem de Malta em 1722. E chamavam-lhe por lá o príncipe Emmanuel... Isto de nomes tem muito que se lhe diga, olá se tem!

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    9. Aí está ele, em O, na Wikipédia inglesa
      https://en.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Manoel_de_Vilhena; na portuguesa, da minha escola, em U: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Manuel_de_Vilhena; mas aqui vai também a francesa, em O: https://fr.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Manoel_de_Vilhena; já os árabes...
      https://arz.wikipedia.org/wiki/%D8%A7%D9%86%D8%B7%D9%88%D9%86%D9%8A%D9%88_%D9%85%D8%A7%D9%86%D9%88%D9%8A%D9%84_%D8%AF%D9%89_%D9%81%D9%8A%D9%84%D9%87%D9%8A%D9%86%D8%A7; ou os russos...
      https://ru.wikipedia.org/wiki/%D0%92%D0%B8%D0%BB%D1%8C%D0%B5%D0%BD%D0%B0,_%D0%90%D0%BD%D1%82%D0%BE%D0%BD%D0%B8%D1%83_%D0%9C%D0%B0%D0%BD%D1%83%D1%8D%D0%BB_%D0%B4%D0%B5

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    10. Céus, tanta wikipédia! Basta-me ler a prosa do Zé Maria (Pequenos Mundos) e fico contente. De qualquer maneira, obrigado pelos informes.

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    11. Caro R, o que é que lhe sconteceu com os árabes? Um despiste percentual? ;)

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    12. Tudo sobre o Manouel, seu homónimo.

      Fernando, cá para mim foi a CIA.

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