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6 de setembro de 2024

101 poemas portugueses - #47


OCEÂNIAS


Ondas do mar me deitaram
sobre o calor das areias
que ao meu corpo se moldaram
pra aquecer as minhas veias.

E aquele corpo de escrava
dando-me força a vencia
pelo gozo que me dava
para o gozo que sofria.

A noite vinha a descer
e subia a maré-cheia...
Eu já tinha o meu poder:
fugi à praia, deixei-a.

Foi assim que regressei
das conquistas do mar bravo,
e ergui palácios de rei
sobre refúgios de escravo.


Branquinho da Fonseca (Mortágua, 1905 - Malveira da Serra,  Cascais,1974),

in presença #7, Coimbra, 8-XI-1927

13 de novembro de 2021

ALENTEJO(S)

 Livro de estudiosos, para estudiosos, teve de se contentar, no que me diz respeito, com a leitura de um curioso.
Gosto de obras que me ensinem, ou que me alimentem a memória, ou que me revelem informações inesperadas. Aqui, em ALENTEJO(S) - imagens do ambiente natural e humano na literatura de ficção, editado / organizado por Ana Cristina Carvalho e Albertina Raposo, petisquei de tudo.
Mas, quando resolvi realçar alguns pontos que mais me tinham acordado, dei comigo a fazer a lista de quase todos os autores... não podia ser, porque acabaria a fazer um resumo que não estaria à altura do original.
Permiti-me, portanto, algumas referências de cunho mais pessoal, que a leitura me despertou:
- Manuel Ribeiro é autor cuja personalidade e obra me cativa desde os meus longínquos tempos de bibliotecário em Manteigas; vim encontrá-lo aqui e surpreendi-me com o que li;
- assim como José Régio (aqui, pela mão de Manuel Nunes) que, por enviesamento meu, teimo sempre em associar (só) a Vila do Conde (espraiada, entre pinhais...);
- tive possibilidade de conhecer pessoalmente Manuel da Fonseca e de trocar algumas impressões com ele, em tertúlia pós-revolucionária (a maior parte, se não todos os livros dele estão autografados e dormem cá por casa); a sessão alongou-se muitíssimo para lá do tempo previsto, e acabou com ele a levantar-se, clamando, com ar a condizer: «tenham paciência, mas temos de acabar, senão mijo-me todo...»; inesquecível, concordem;
- Florbela Espanca é ela mesma: a maior sonetista da língua portuguesa;
- o último livro que meu pai me recomendou que não perdesse, depois de ele ter lido, é de Fernando Namora; uma boa parte li no hospital, acompanhando os últimos dias dele;
- Bismarck disse que, contrariamente à estupidez, a ignorância tem cura; aqui vim descobrir o papel histórico de Branquinho da Fonseca nas Bibliotecas que alimentaram de prazer das melhores horas da minha vida.
Bem hajas, Cristina; valeu a pena o teu trabalho e saber, a que juntaste fotografias a desenhar a realidade descrita.
Recomendo.