28 de novembro de 2013

uma epígrafe de Euclides da Cunha

Realmente, a Amazónia é a última página, ainda a escrever-se, do Génesis.

in Ferreira de Castro, A Selva (1930)

24 de novembro de 2013

Arundhati Roy, 52


Nascida em Shillong, capital do estado indiano de Meghalaya,
Arundhaty Roy completa hoje 52 anos

21 de novembro de 2013

Voltaire, 319

François-Marie Arouet, dito Voltaire, nasceu em Paris, em 21 de Novembro de 1694.

20 de novembro de 2013

12 de novembro de 2013

Ainda "A MORTE DO REI DE ESPANHA"


"Juan Muriel tem cinco peixes num aquário e um manequim lindíssimo (...)"
 
              CARLOS DANIEL, A Morte do Rei de Espanha, Lisboa, Chiado Editora, 2012, p. 185.
 
 
Fotografia obtida ontem numa loja da Baixa

10 de novembro de 2013

CULTURA ITALIANA: PIRANDELLO E OS CONFLITOS DO EU





                                           CULTURA ITALIANA: PIRANDELLO E OS CONFLITOS DO EU 


O Clube de Leitura de Sintra debateu em de Maio a obra e a representação literária de Pirandello (1867-1936). As linhas de força deste verista são: a solidão, o absurdo da existência, o mistério da personalidade. Lembrei nesta ocasião a proximidade ‘familiar’ desta poética a três outras: Giacomo Leopardi (1798-1837), Antero e Pessoa. Os conflitos do Eu e da Existência têm caracter dominante e percursos únicos e vários nas Obras destes escritores.

A profundidade destas interrogações seja num discurso pessoal seja num percurso ontológico vai diferenciar as três poéticas embora com referentes simbólicos comuns: a Dor física e a sua libertação pela morte como a propõe Leopardi ou o Antero no Ciclo do Elogio da Morte.; por outro lado a solidão, as máscaras, a multiplicação do Eu, a despersonalização, os percursos do Não-Ser até ao Ser único e absoluto, aproximam-nos de Pessoa e do próprio Pirandello.

Dá-se o caso de eu amar a cultura italiana. Dá-se a circunstância de eu ter participado no evento: ‘ E naufragar me é doce neste mar: Leopardi na Madeira’ que assinalou o bicentenário do nascimento deste importantíssimo poeta italiano. Nessa ocasião, isto é, em 1999, depois da leitura dos Canti escrevi para Pádua e disse que o nosso Camões possui terríveis afinidades com o poeta de Recanati. Disse: ‘de facto, o nosso épico, que muito bebe nos académicos de Florença, reflete na Canção IX, da minha especial predileção, e nos sonetos, problemáticas semelhantes ao caso do poeta italiano’.

Observei a feliz coincidência das relações de cultura entre os dois povos. Subtis mas perenes, impercetíveis mas resistentes e plásticas como as qualidades das suas respetivas línguas. Fossem essas relações diplomáticas ou comerciais de antiquíssimo registo desde a remota Génova e da poderosa Veneza de Quinhentos; fossem literárias ou artísticas com a deslocação de pintores e suas escolas, de arquitetos e de escultores; fossem musicais e até científicas: a organização dos nossos gabinetes de História Natural, o recorte dos nossos jardins botânicos desde o renascentista ao barroco.

São lentos mas de sábia lentidão os processos criativos na teia que reúne os povos. Contudo, o universo das palavras, o ser das palavras domina as poéticas neste fascínio em busca do cerne da poesia; incessante desvendar do outro para a compreensão de nós-mesmos. Agora, na busca da essencialidade também num refazer de linguagens plásticas que ultrapassam a própria razão e vai mais longe que Descartes: para existirmos não basta nos pensarmos. Parafraseando a essencialidade de Clarice Lispector direi que existimos quando nos vemos ao espelho. Se nos movemos  na busca do outro, deslocando os eixos culturais do mundo, atualizando Quinhentos, é por que já desanuviamos a nossa aura. E nos confirmamos como europeus.                                 

1 de novembro de 2013

JESUS POBREZINHO, anónimo

Vindo um lavrador da arada,
Encontrou um pobrezinho;
O pobrezinho lhe disse:
-- Tenho fome e tenho frio;
Lavrador, por Deus te peço,
Leva-me no teu carrinho. --
Deu-lhe a mão o lavrador,
No carro já o metia;
À sua casa o levava,
À melhor sala que tinha.
Mandou-lhe fazer a ceia,
Do melhor manjar que havia;
Sentou-o à sua mesa,
Coa a sua mão o servia.
Mandou-lhe fazer a cama,
Da melhor roupa que tinha;
Por baixo damasco roxo,
Por cima cambraia fina.

Era meia-noite em ponto,
O pobrezinho gemia.
Levantou-se o lavrador,
A ver o que o pobre tinha:
Deu-lhe o coração um baque,
Como ele não ficaria...
Achou-o crucificado
Numa cruz de prata fina!

-- Meu Senhor, quem tal soubera,
Que em minha casa vos tinha...
Mandara fazer preparos,
Do melhor que se acharia...
-- Cala, cala, ó lavrador,
Não fales com fantasia...
No Céu te tenho guardada
Cadeira de prata fina;
Tua mulher a teu lado,
Que também o merecia.

in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler, Lisboa, Campanha Nacional de Educação de Adultos, 1956, pp. 18-19.

(lido na sessão de 4 de Outubro de 2013)