Mostrar mensagens com a etiqueta Penhas Douradas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Penhas Douradas. Mostrar todas as mensagens

8 de outubro de 2020

"Ressuscitando" Beldemónio



Em leituras investigantes, dei comigo a ler um livro interessantíssimo de Emídio Navarro, descrevendo um passeio científico, promovido pelo doutor Sousa Martins, à Serra da Estrela, e, entre muitas curiosidades e pormenores, dei com o seguinte trecho, que me permito transcrever, atualizando a grafia de 1884.

«... Por baixo do tal quadro havia algumas fotografias. - De quem é este retrato? perguntei admirado, apontando para uma delas. - É de Beldemónio; é de meu filho, respondeu o pobre homem com um suspiro, que parecia traduzir, em partes iguais, um misto de ternura e de mágoa. Uma natural delicadeza nos proibiu de investigar e profundar a significação desse suspiro, contentando-nos em saber, que vive em Gouveia o pai de um dos moços mais esperançosos da nossa literatura, estilista de buril tão delicado e mimoso, como vigoroso e firme...

... E aí está o segredo de Gouveia. Ficámos sabendo, que vive em Gouveia o pai de um dos nossos mais distintos escritores, e que o pai rendilha quadros de canudinhos de papel com tanta perfeição, como o filho rendilha períodos harmoniosos. O pai chama-se Vitorino Lobo Correia de Barros, e o filho assina-se Barros Lobo, e usa no jornalismo o pseudónimo de Beldemónio...»

Se lhe abri o apetite, lamento informar que o livro se tornou uma raridade, mas espero que, a curto prazo, o possa encontrar na Bibliotrónica Portuguesa... sem papel.

8 de setembro de 2018

LINHAS ENTRE NÓS em segunda edição


Três anos passados sobre o lançamento de LINHAS ENTRE NÓS, do confrade J. A. Marcos Serra, e há muito esgotada a parte da edição destinada ao público, decidiu-se o autor por uma reedição, revista e aditada, desta vez em formato digital, assumida pela Bibliotrónica Portuguesa, plataforma no âmbito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que criou nova capa, em conformidade com os seus critérios editoriais, e adaptou a paginação à leitura em suporte digital.
Convida-se, pois, o leitor, a descarregar, ler ou imprimir livremente, desde que sem fins comerciais, e mesmo a enviar a “ligação” a amigos que gostem de ler nos novos suportes. Aqui fica:
Se tiver interesse em conhecer melhor a Bibliotrónica e a forma como apresentam os livros que reeditam, editam e disponibilizam, ficará surpreendido com o tamanho e riqueza da preciosidade que colocam ao seu dispor.
Deixo a apresentação da reedição:

Novo artigo em Bibliotrónica Portuguesa

A Bibliotrónica Portuguesa acaba de acolher, na secção de Reedições, mais um livro que ainda não se encontra em domínio público. Linhas Entre Nós, de J. A. Marcos Serra, é uma coletânea de contos e poemas, a que o autor acrescentou um capítulo sobre toponímia e um glossário de regionalismos (Manteigas, Serra da Estrela).
Além do interesse narrativo, poético e linguístico deste livro, o domínio da língua portuguesa que o autor demonstra recomenda especialmente esta leitura a todos os que gostem de passar as férias (e não só) em boa companhia.
Dizia-se...
(não sei se com verdade se inventado)
... que tinha vindo de fora, e era de famílias ricas. Teria andado numa guerra onde viu mil barbaridades horrendas, e onde cometeu crueldades escusadas, de que se arrependeu com honestidade e dor.
(Olha que sei bem o que são umas coisas e outras, pelo que vi e fiz durante a Grande Guerra, em Angola... ainda hoje me dói cá dentro... mas vamos à história.)
A verdade é que, quando a paz chegou, ele nunca mais a conseguiu encontrar e viver com ela, e achou que devia penitenciar-se, durante o resto da sua vida, pelos males que tinha feito.
Foi então que veio para aí.
Escolheu um lugar em plena serra, no sítio onde se ergue a capela vetusta de São Lourenço.

11 de março de 2016

imagens de Linhas Entre Nós - II

O conto, O Senhor de Pera e Bigode,

além de uma história singela, pode ser um pequeno roteiro turístico local, que canta as belezas e grandiosidade da Serra da Estrela.
Acompanhe, antes de mais, a caminhada longa e paciente que Ti Simão faz, acompanhado do Fiel, subindo a encosta íngreme, de Manteigas até às proximidades do Seixo Branco (no mapa, em linha laranja).












Passará pelo Observatório Meteorológico (popularmente, Casa das Gadanhas), pela Casa da Fraga
 (primeiro Sanatório experimental, por iniciativa do Dr. Sousa Martins), com a Fraga da Cruz a impor-se, de vários ângulos, à sua admiração  curiosa e aventureira.
Do seu cume, a vila parece despenhada lá no fundo, depois de um voo no vazio: arrepie-se.
Acompanhará o pastor a ver o despertar do dia, com o sol a refletir-se no fraguedo das Penhas Douradas em refulgências inesquecíveis.















Sentir-se-á esmagado pelo volume ciclópico do Frade e Freira, perdidos na serrania, a contemplarem a Fraga da Cruz, ali perto, e o Fragão do Corvo, já vizinho da Villa Alzira, onde Afonso Costa se resguarda da voragem da política, em busca de paz e, quem sabe, de algum arrependimento, sucumbindo à dúvida que inquieta.
Naquela noite, depois da conversa com o pastor, saiu de casa, vigiado pela Dourada, sua cadela de estimação, subiu ao Fragão do Corvo, e, esmagado pela calote de estrelas e a visão bruxuleante de Manteigas, lá no fundão do Zêzere, (disse a guardiã), chorou.

5 de novembro de 2012

Afonso Costa (poeta?) e Manuel Ferreira da Silva


De Afonso Costa, exilado em Paris, se falou na última sessão do Clube de Leitura.
A propósito, alguém citou, de cor uma quadra do político que tinha (e a família tem, ainda hoje), uma casa (Villa Alzira), e um barracão volumoso (ainda conhecido, na zona, por "Garagem do Afonso Costa") em zona arejada da Serra da Estrela, nas Penhas Douradas, alcandorados sobre a vila de Manteigas.
Escreveu ele, a amigo, em Portugal:
Suivez moi, dans mon village
Et je vous direz coisas meigas,
La ville, la bas, c'est fromage...
Fromage, non; c'est Manteigas.

Sobre o mesmo local encantador, escreveu, mais tarde, um manteiguense ilustre, Manuel Ferreira da Silva:
Quem, um dia, quiser ver o rosto a Deus,
Iluminado à luz que eterna, brilha,
Suba à montanha, até tocar os céus,
E cisme um pouco em tanta maravilha!

Para que se não percam...