29 de janeiro de 2012

porque gosto tanto do Manuel da Fonseca

porque esta atmosfera, para além do real, impregna a sua escrita:

Na madrugada escura, o homem ergueu o peito e soprou no búzio o último aviso. O som atravessou a vila e ganhou eco na encosta do castelo, estalando como um ai. Cães responderam com uivos, de focinho curvo para o céu, e um galo, atónito ante tanto mistério, gritou pelo Sol.

«Sete-estrelo», Aldeia Nova (1942), 7.ª edição, Lisboa, Editorial Caminho, 1984, p. 63. 

26 de janeiro de 2012

mais uma epígrafe, esta de Nietzsche

"Quando se ama o abismo, é preciso ter asas."

Biografia (sonetos)  de JOSÉ RÉGIO

uma epígrafe de Almeida Garrett

Mas são flores que nascem na serra
Onde todo o seu mundo se encerra,
Porque aí tem -- o seu bem -- seus amores.

                               A Adélia, apud Bernal-Francês.




n'Os Meus Amores, de Trindade Coelho

22 de janeiro de 2012

uma epígrafe de Fernando Pessoa

Cumpriu-se o mar e o império se desfez.
Senhor, Falta cumprir-se Portugal.

Mensagem


n'O Labirinto da Saudade, de Eduardo Lourenço.

Alice Ruiz

Alice Ruiz nasceu a 22 de Janeiro de 1946, em Curitiba.
(foto Vilma Slomp, daqui)

19 de janeiro de 2012

Pedro da Fonseca - um escritor desconhecido - homenagem


Professor, por necessidade e vocação, sacerdote, por amor à mãe e singular missão, escritor, por entranhado afeto à pátria / língua portuguesa e necessidade pungente de clamar revoltas, angústias, ideias, solidão e medos, Pedro Inês da Fonseca, aos 93 anos, deixou que lhe entregassem o corpo, à terra, na manhã fria de 27 de Novembro de 2011.

Homem simples, solitário, humilde, mas sensível e conhecedor da vida e da alma humanas, além de artífice, rigoroso, da língua que falamos, foi capaz de nos legar uma obra literária, em 28 volumes, impressos a custas suas (Europress), e mais 42, já publicados e em vias de publicação, em blog criado para o efeito: (http://pedrofonseca1918.blogspot.com). Nas gavetas e estantes, segundo confidência, estará quase outro tanto que o tempo e a saúde lhe não permitiram rever (com visão monocular debilitada pelos anos e esforço, é pena que muitas gralhas de digitação lhe perturbem, muitas vezes, a escrita).

Filhos, assim lhes chamava, com desilusão de não ter tido outros.

Rigoroso na forma, seguidor dos clássicos, insurgiu-se contra os desmandos do linguajar e escrever; três dos seus livros foram batizados “Venha Aprender Português Comigo”.

Conservador, nalgumas questões do mundo e da vida (religião e vocação genuína, educação cívica, morigeração de costumes, homossexualidade…) não hesitou em assumir posições de fronteira, contra o celibato imposto (por antinatural, causador de males sociais e morais, não determinado por Jesus), a educação forçada e não construída na razão (sem respeito pela liberdade de cada ser), a vocação induzida, seja para a vida religiosa, seja para qualquer mister (manancial de infelicidade sem termo)…

Com amor arreigado, à pátria, zurziu os seus vendilhões, de ontem e de hoje.

De uma religiosidade profunda, os seus escritos estão impregnados dos mais puros conceitos, influenciados por algum ecumenismo quando, em África, conviveu, de perto, com várias confissões cristãs.

Sem olvidar o romance (ou novela, como preferia chamar), a sua obra tem como pilares as Memórias (diários d’aquém e d’além mar) e a didática, em vários espaços da vida e do saber, sob o título Consulta da Tarde.

Ao sofrer, na pele, os horrores e humilhações, como refugiado, no sul de Angola e Namíbia, aquando da descolonização, deixou-nos linhas talhadas a sangue, retratos palpitantes de uma época da nossa história, com os erros e virtudes dos mesmos homens que a foram decidindo.

O que fica por dizer, contrariando o meu impulso de antigo aluno e de amigo de há muitos anos! Manda porém o bom senso que me detenha.

Mas, na hora em que o seu coração deixou de bater, impunha-se-me o dever, sentido, deste preito singelo.

JMS

Homenagem prestada na sessão de 6 de janeiro de 2012

16 de janeiro de 2012

POEMA CONFIADO À MEMÓRIA DE NORA MITRANI, Alexandre O'Neill

Se eu pudesse dizer-te: -- Senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viajeiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém: -- Vê se adivinhas...
     Então um fértil jogo amor seria.
     Não este descerrar a mão vazia!

Eros de Passagem -- Poesia Erótica Contemporânea, selecção e prefácio de Eugénio de Andrade, Porto, Limiar, 1982, p. 48.

Lido na sessão de 6 de Janeiro de 2012

15 de janeiro de 2012

flores em la mar

«[...] o velho sempre pensava no mar como feminino, como algo que entrega ou recusa favores supremos, e, se tresvariava ou fazia maldades era porque, não podia deixar de as fazer. A lua influi no mar como nas mulheres, pensava ele.»

Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, tradução de Jorge de Sena, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., pp. 30-31.

11 de janeiro de 2012

10 de janeiro de 2012

POEMA, Mário Cesariny

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.

Eros de Passagem -- Poesia Erótica Contemporânea, selecção e prefácio de Eugénio de Andrade, Porto, Limiar, 1982, p. 46.

Lido na sessão de 6 de Janeiro

9 de janeiro de 2012

Erro de português, Oswald de Andrade

Totem, Patricia Ariel
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

(Lido na sessão de 7 de Janeiro.)

Drumundana, Alice Ruiz


Krzysztof Izdebski

e agora maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

[Navalhanaliga, 1980.]

(Lido na sessão de 7 de Janeiro.)

4 de janeiro de 2012

jovem e medrosa?

Faustina, a Jovem e Marco Aurélio, como Vénus e Marte
(e como não os (d)escreveu Gonçalo M. Tavares)

1 de janeiro de 2012

Afonso Duarte, 128

Afonso Duarte nasceu a 1 de Janeiro de 1884, na Ereira, Montemor-o-Velho.