9 de junho de 2015

CÍRCULO VICIOSO, Machado de Assis












Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

in Evaristo Pontes dos Santos, Antologia Portuguesa e Brasileira, Porto, 1974, p. 84
(lido na sessão de 5 de Junho)

5 comentários:

  1. Uma delícia em prosa, um bombom em poesia.

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  2. Já andava para deixar aqui o desafio... Mas a transcrição deste poema do Machado de Assis, torna-o imperioso:
    O José Serra fica notificado para, no mais curto prazo, expor à gula pública aqui na Curva dos Livros o tão inspirado quanto divertido soneto que escreveu a propósito do Capítulo XV do D. Casmurro e interpretou na última sessão do clube de leitura! Dixi!

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