17 de março de 2016

EÇA DE QUEIROZ E A RAINHA

«De Principes, só conheço o coração daquelles, tão raros! que foram poetas, como o meu gentil Charles d´Orléans, e que puzeram todo o seu coração em Randós e Villancetes. Depois, a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta creacinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de Monarchias e Republicas para realisar a unica obra urgente do mundo – «a casa para todos, o pão para todos», lentamente me tem tornado um vago anarchista entristecido, idealisador, humilde, inoffensivo… Anarchismo, mesmo vago; tristeza, mesmo philosophica; idealisação, mesmo escondida – não compõem um bom cortezão. Mas uma rainha gracieuse, bonne et belle, certamente me encanta. E, pois que o nosso pobre Mundo tanto necessita de doçura e bondade, sinceramente creio na vantagem social de que, por vezes, uma Rainha, irradie um pouco da sua doçura, da sua bondade, sobre os costumes, o espírito e as leis.» --- EÇA DE QUEIROZ, Notas Contemporâneas.
--- Confrontar com MIGUEL REAL, As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia, capítulo "Julho - Os escritores"

5 comentários:

  1. É um magnífico texto do Eça, que faz, aliás, justiça à pobre D. Amélia.
    Ainda não me atirei ao livro do Miguel Real.

    Abraço

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    1. Pois, as "memórias" dela sobre o Eça é que não são muito boas.Tinha mais simpatia pelo Oliveira Martins.

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    2. É o que parece...
      A senhora D. Amélia, mesmo posta na prateleira pelo seu barriliforme esposo (cuja figura baixa e rotunda não se adequava, pelos vistos, ao metro e oitenta e tal da rainha e preferia entreter-se com as plebeias) não ia muito com o "bigodinho derriçado", nem com o "sorriso lateral, cáustico e demolidor" do Eça...

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    3. Ainda não comecei o livro. Boas questões para o Miguel Real, no dia 1.

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  2. As Notas Contemporâneas do Eça é um dos livros que ainda tenho de ler... tão pouco tempo para tão vasta seara!

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