23 de março de 2020

Uma leitura de 100 CARTAS A FERREIRA DE CASTRO

Há muito que um livro não me obrigava a trabalhar tanto: porque me agarrou, porque me informou e ensinou, porque me levou a conhecer pensadores de ideologias libertárias, que aprendi com Fernando Biencard Raposo, homem de teoria e ação daqueles tempos (quem sabe se conhecido de alguns dos literatos referidos no livro), pelo panorama geral da intelectualidade portuguesa dos primeiros quarteis do século XX, pelo testemunho político subjacente a muitas cartas, e como manancial do que designamos por cultura geral.
E isto, graças ao trabalho excelente do nosso "abade entre confrades", Ricardo Alves. Bem haja.
Em sessão discutida, não imaginam o que me teriam de ouvir; nestas circunstâncias de confinamento (a palavra é quase tétrica), vou "morigerar", seguindo bons conselhos sussurrados... aos olhos. Assim, deixo apenas referências ao que me despertou mais a atenção:
Na página 8, a referência a Raul Brandão. Na 22, a confissão dorida que brota na linha 3. Na 32, a sova a Júlio Dantas. Na 70, o tom, entre coloquial e urdido, com finalidade clara, de Tomás Ribeiro Colaço. Na 98, quando ... «Em 1940, decidi escrever um romance...». Na 104, o "epitáfio" a Guerra Junqueiro. Na 109, a Referência a Rocha Martins. Na 128, a mensagem de apoio a Norton de Matos. Na 149, o testemunho genuíno de Maria Lamas. Na 145, em Referência, o que escreve Armindo Rodrigues. Na 171, o que António José Saraiva diz de Ferreira de Castro. Na 178, a carta de Maria Archer. Na 204, a carta de Óscar Lopes, e na 210, a de António Álvaro Dória, além das palavras tumulares de Jorge Segurado. Na 225, o apelo de Virgínia Moura e o que está subjacente. Finalmente, da página 228, o texto que se inicia com «Quando há meio século entrámos no túnel...» e termina «... a chorar com a alegria que só os velhos sabem sentir.», nas palavras de José Gomes Ferreira.
Por fim, um desafio ao nosso Ricardo: fiz o levantamento de todas as obras referidas neste livro, com edições com mais de 70 anos; como princípio geral, livres para divulgação pública (várias já o estão, aliás). Muitas delas, no espólio do Museu Ferreira de Castro. Porque não proceder à sua digitalização para que, ressuscitadas, possam voltar a ser lidas, homenageando quem as escreveu? E mesmo outras que, não existindo no Museu, a que se pudesse aceder. Se o museu não pudesse carregar esse acervo, eu disponibilizo-me para ajudar a encaminhar os ficheiros para local digital adequado, e a divulgá-los em plataforma do maior crédito. No entanto, já comecei a ver quais deles estão já disponíveis para evitar duplicações.
... Eu sei: só as pessoas muito ocupadas têm tempo para empreender novas coisas.

3 comentários:

  1. Obrigadíssimo meu caro, pela leitura empenhada!
    Quanto ao que diz, tem toda a razão, há livros que bem merecem novas reedições. A questão dos 70 anos, porém, não impende sobre a data da publicação de cada obra, mas o ano da morte do autor. Só a partir dessa data a obra entrará em domínio público.
    Abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. ... mas há obras de Jaime Cortesão e Augusto Casimiro, por exemplo, disponíveis em formato digital (https://bibliotronicaportuguesa.pt/livronicos-na-internet/). Algumas terão sido "cativadas" por herdeiros ou editoras, mas outras não.

      Eliminar
    2. Nesse caso, a não ser que tenha havido disposição dos herdeiros nesse sentido, essas obras foram despejadas para aí ilegalmente. É algo que acontece, creio precisamente por essa confusão: pensa-se que o domínio público se inicia 70 anos depois da publicação da obra, quando tal sucede apenas após a morte do seu autor. Até lá as obras são dos filhos, netos ou outros herdeiros.

      Eliminar