18 de agosto de 2014

ENQUANTO NÃO CHEGA "O RETORNO"...

"No verão de 18... ao declinar de um dia ardentíssimo, passeiava eu no espaçoso largo do Rocio, quando vi parar a cura distancia uma caleche e a pessoa que vinha dentro fazer-me um aceno para que me approximasse.
Era o meu particular amigo O... (que tratarei pelo nome de Carlos), conhecido nesta cidade pela elegância da sua figura e pela gentileza, não menos notável, do seu caracter.
- Vem dar um passeio até Bemfica, disse elle, abrindo a portinhola e convidando-me a tomar um logar à sua direita.
Acceitei de boa mente o offerecimento.
- Que tens feito? Desde que chegaste da provincia é a segunda vez que te vejo. Estiveste em Cintra?
- Não, tenho estado sempre em Lisboa.
- Vens do campo para te encerrares em casa na cidade?
- Pelo contrario, saio todos os dias e vou a todos os sitios.
- Mas que sitios são esses? Eu appareço em todos onde se reune gente e não te vejo em nenhum.
Sorrio-se como quem fosse apanhado n'uma ingenua fraude e depois continuou:
- É verdade, não tenho frequentado o Marrare, o theatro, o passeio, nem a casa da neve.
- O que equivale a dizer que não vaes a parte nenhuma onde se encontre alguem conhecido. Estarás tu apaixonado!
- E se assim fosse, o que dizias?
- Que era uma desgraça como outra qualquer.
- E a peior de todas as desgraças.
.... ....  "

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