7 de novembro de 2017

"NATHAN O SÁBIO" E OUTROS LIVROS

As cruzadas vistas pelos árabes, de Amin Maalouf, é um livro que surge naturalmente na leitura do poema dramático Nathan o sábio, de Gotthold Lessing. Como não estive presente na sessão, não sei se a obra do escritor libanês foi referida pelos colegas do Clube de Leitura ou pelos visitantes do teatro de Almada.
A peça de Lessing, escrita, como sabe quem leu o prefácio de Manuela Nunes, para arrumar de forma exemplar a controvérsia teológica e filosófica com o ortodoxo luterano Johann Melchior Goeze, afasta-se um pouco da verdade histórica e, na verdade, nem tinha de a respeitar por inteiro. O aspecto que mais me intrigou, foi a presença em Jerusalém do patriarca romano. À luz de Maalouf e dos cronistas árabes citados, o patriarca abandonou a cidade depois de ela ter sido tomada por Saladino em 1187. O sultão de origem curda (Saladino nasceu em Tikrit, actual Iraque) foi, de resto, magnânimo, deixando-o sair com todo o ouro da igreja e aliviando consideravelmente o valor dos resgates exigidos para a partida dos cristãos. Destes, só os ortodoxos gregos e os jacobitas permaneceram na cidade santa das três religiões monoteístas.
Já as referências ao exaurido tesouro de Saladino são concordantes com a palavra dos cronistas. As promíscuas alianças existentes naquele século XII entre o pessoal político-militar dos diversos credos, sobretudo  cristãos e muçulmanos, tornam verosímil o novelo de parentescos desfiado nas últimas cenas.  
Sem tirar mais conclusões, penso que Nathan o sábio deverá ter originado uma boa discussão entre os leitores. É um livro como gosto, dos que nos obrigam a procurar outros livros. Foi por ele que voltei a folhear o Decameron de Boccaccio, em cuja obra se inscreve  a parábola dos três anéis, usada por Lessing como peça fulcral do seu poema dramático e contada, na obra do escritor toscano, pela personagem Filomena. Ainda sobre Boccaccio: são notáveis o prefácio do autor sobre a peste que grassou em Florença de Março a Julho de 1348 e a sua judiciosa conclusão a respeito das «cem novelas que em dez dias contaram sete donzelas e três donzéis.»

2 comentários:

  1. Não foi, mas lembrei-me do livro dele que já aqui lemo, «Um Mundo sem Regras».
    vamos reencontra o sábio Nathan em Dezembro ou Janeiro nos palcos de Almada, certo?

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  2. Vou tentar. Para mim, Dezembro está complicado, mas espero aparecer na Praça da Canção.

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