Hoje apetece-me dar estrelas aos contos do Régio (a bloga ou é lúdica ou não é bloga!); e como gosto de pensar que sou um
gourmet destas coisas (como diria o Jaime Brasil), aqui vai o atrevimento dum mero leitor.
«Menina Olímpia e sua criada Belarmina» (****) Um conto cheio de piedade. A caracterização da grotesca menina Olímpia, menina já entrada e metida consigo -- na realidade, no limiar da demência --, que se veste e pinta como quando era rica e casadoira sem deixar indiferentes os passantes, e da velha criada Belarmina que a acompanha na degradação do modo de vida de ambas, numa
ilha portuense. O confronto entre as duas, quando, por bem-querer,
a
aia Belarmina sugere à patroa que se vista com mais conforto na sua pobreza e com menos espavento do que costumava na sua idumentária de vinte anos atrás, é, para mim, o grande momento da história: «Quando compreendera, menina Olímpia esganiçara umas risadas de escárnio, tivera uns gestos de frenéticos, falara -- pela primeira vez -- na diferença de condição que as separava [...]» -- e por aí fora, até à cruel humilhação da criada: «Reparasse ela ao menos, bruta!, (chegara a chamar-lhe bruta!) reparasse ela ao menos, bruta!, como a cumprimentavam respeitosamente os cavalheiros [...]» (p. 34).
«História de Rosa Brava» (*****) O melhor dos textos, cheio de raça, de finura psicológica, o modo como as personagens nos são reveladas, a força
selvagem de Rosa, com «os seus esplêndidos olhos negros, olhos cuja sombria beleza só primo Rogério até então soubera ver [...]» (p. 65). Do melhor que se pode ler.
«Os namorados de Amância» (**) Talvez o menos conseguido, história de proveito e exemplo sobre a frivolidade, provavelmente adequado à revista
Eva, onde foi originalmente publicado.
«Os paradoxos do bem» (***) Muito interessante para quem conhece bem Régio, versando sobre os grandes problemas que sempre o interessaram, a Arte e Deus. Neste particular, prefiro o Régio escritor de ideias, o crítico, o ensaísta, o diarista, o metafísico desse deslumbrante
Confissão dum Homem Religioso.
«Marina e a Camélia» (****) Um pequeníssima jóia, quase neo-realista...