29 de dezembro de 2015

ÀS CHAGAS, Frei Agostinho da Cruz

Divinas mãos e pés, peito rasgado,
Chagas em brandas carnes imprimidas,
Meu Deus, que, por salvar almas perdidas,
Por elas quereis ser crucificado.

Outra fé, outro amor, outro cuidado,
Outras dores às Vossas são devidas,
Outros corações limpos, outras vidas,
Outro querer no Vosso transformado.

Em vós se encerrou toda a piedade,
Ficou no mundo só toda a crueza,
Por isso cada um deu o que tinha:

Claros sinais de amor, ah, saudade!
Minha consolação, minha firmeza,
Chagas do meu Senhor, redenção minha.

in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler, Lisboa, Campanha Nacional de Educação de Adultos, 1956, pp. 24-25.
Lido na sessão de 4 de Dezembro de 2015.

7 de dezembro de 2015

2 de dezembro de 2015

VINTE E QUATRO HORAS NA VIDA DE UMA MULHER

"Nesse momento, do interior, a chave deslizou na fechadura e o porteiro do hotel abriu a porta.
-Vem daí! - disse então, bruscamente, o rapaz, numa voz dura, decidida, irritada.
Eu senti em volta do meu pulso o anel de ferro dos seus dedos. Fiquei transida de medo, de tal modo paralisada, como se um raio me tivesse fulminado ou me tivesse feito perder a cabeça.
Quis defender-me, soltar-me... mas a minha vontade estava inerte... e eu... o senhor compreende... tive vergonha diante do porteiro - que se mostrava impaciente - de estar para ali a discutir com um estranho. E assim... assim... encontrei-me, de súbito, dentro do hotel. Quis falar, dizer qualquer coisa, mas a voz abafou-se-me na garganta."



Até sexta!