29 de outubro de 2018

um país atlântico

«As ilhas da Madeira e dos Açores constituíram e constituem um compromisso diário com o mundo atlântico e os países dos vários continentes que povoam a nossa história marítima.» António Borges Coelho, Donde Viemos - História de Portugal, vol. I (2010), 2.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2015, p. 13.

24 de outubro de 2018

CANÇÃO SEGUNDA, Manuel Alegre

Canto de pé no meio do país amado.
Os ventos tristes batem no meu rosto
batem no meu poema as vozes muito antigas
de não sei que desgosto sempre tão cantado
nas cantigas nocturnas do país amado.

Eu cantarei os homens assentados
nas cadeiras de chuva sobre a dor.
Dos nervos do meu canto lançarei mil dardos
eu cantarei o amor e os ombros libertados
de seus fardos. Que eu vi na dor os homens assentados.

Deixai-me ouvir os homens que falam tão baixo.
Porque não sei trair a honra de cantar deixai-me
cantar meu povo onde meu povo não cantar.
Eu quebrarei qualquer açaime e do luar farei um facho
para encher de luar os homens que se queixam baixo.

Canto de pé no meio do país amado.
Outros falem de si tecendo a frágil dor
deitados no poema entre cortinas e almofadas.
Eu cantarei o amor que sempre foi negado
às gentes ignoradas do país amado.



Praça da canção (1965), 4. ª ed., Mem Martins, Publicações Europa-América, 1979, p. 45.


Prisioneiro da pide em Luanda, c. 1963



11 de outubro de 2018

Tentando saltar o muro...


"A voz das cigarras enlouqueceria qualquer um, eram elas as donas da ilha e faziam questão de demonstrar o seu poder. Tantas as linguagens que Omid conhecia e aí estava uma a que nunca prestara atenção, a dos habitantes sub-reptícios do terreno. As línguas à sua volta já começavam a ser familiares. Na Turquia convivera com todos, contando as horas uma a uma, no pavor de ser preso. Como todos, negociara a travessia, esperara noites e noites, acachapado entre as sombras escusas de uma margem errada. Como todos, trocara moedas por pedaços de pão e tâmaras, também por documentos. Até as entoações, os sotaques, começava a distinguir, nos farrapos de conversas, nos modos usados para acalmar as crianças que puxavam insistentemente as saias das mães, fartas de atravessar caminhos que as picavam, fartas de acreditar que o sonho mau estava a passar e que a boa sorte as surpreenderia mesmo mesmo ao virar da esquina, ao virar do barco"

'Um Muro no Meio do Caminho' - Julieta Monginho, pag. 165

(Adivinha-se uma sessão animada...)

9 de outubro de 2018

UM MURO NO MEIO DO CAMINHO, livro do mês

EUGÈNE DELACROIX, O Massacre de Chios (1824), Museu do Louvre, Paris

Obra de arte citada no livro de JULIETA MONGINHO. Assunto: o massacre de 20000 gregos pelo invasor turco durante a Guerra de Independência da Grécia.
«Quem é hoje o invasor?
Não certamente os que fogem, mas os que impõem a fuga. Se alguém invadiu a Europa não foram os aflitos, mas os que instalaram o terror.» [p. 105]

8 de outubro de 2018

superstições

«TEMPLÁRIO - A pior superstição é achar que a nossa é a mais aceitável...» G. H. Lessing, Nathan o Sábio [1783], trad. Yvette Centeno, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2016, p. 184.

3 de outubro de 2018

Ferreira de Castro evocado no 53.º Festival de Música de Sintra


Dirigido por Gabriela Canavilhas, o Festival de Música de Sintra, na sua 53ª edição está a decorrer sob o signo da montanha mágica.
Ferreira de Castro, cujo 120.º aniversário do nascimento se comemora este ano, será evocado no próximo sábado, 6 de Outubro, pelas 17 horas, na Igreja da Ulgueira  através da leitura de textos por Luís Caetano, num concerto do Allis Ubbo Ensemble, com peças para quarteto de cordas datadas de 1898, compostas por vários compositores russos, como Borodin, Glazunov e Rimsky-Korsakov, entre outros. 

2 de outubro de 2018

aprender com Victor Hugo

«O que acarretará ser avô? Como pai não foi lá grande coisa, apesar de dar o seu melhor. Como avô, provavelmente, também ficará abaixo da média. Faltam-lhe as virtudes dos velhos: serenidade, bondade, paciência. Mas talvez essas virtudes ainda venham a surgir, tal como outras desapareceram: a virtude da paixão, por exemplo. Tem de ler novamente Victor Hugo, o poeta dos avós. Poderá aprender alguma coisa.»  J. M. Coetzee, Desgraça,  [1999], trad. José Remelhe, Lisboa, Biblioteca Sábado, Lisboa, 2008, pp. 194-195.