HORICLOR
Caem das gargantas negras
as plumas
com que Horiclor se
enfeita e se perfuma.
O tempo ondula a sua face
lisa
em que pousam os pássaros
anónimos.
Ele lava os presságios e
o motor da aurora
e desafia o vazio com um
arco-íris de nomes.
A partitura do vento, dos
eclipses e distâncias
é um jogo em suas mãos de
embriagado aeronauta.
Quando o silêncio da
terra é absoluto
desenha ovelhas ou apenas
uma árvore.
Outras vezes faz tremular
uma bandeira de miséria
e sonho. Ele sabe onde se
esconde a flor que nasce
do sexo das sereias e
conhece a eloquência das magnólias.
Às vezes deseja que sopre
um vento desesperado e se apaguem as estrelas
e um túmulo se abra com
uma onda no meio.
O seu pensamento é inundado
por rios subterrâneos
e as suas palavras brotam
de uma pequena lâmpada situada no horizonte.
Então o vento abre os
olhos e as torres incendeiam-se.
ANTÓNIO RAMOS ROSA – Nomes de Ninguém (1997)