30 de junho de 2025

101 poemas portugueses - #67

 

NOSSO É O MAR


Nosso é o mar. Nosso e renosso.

Pla dor, pla teimosia, pela esperança.

Nosso até onde a vista o não alcança.

Nosso até onde é nosso o que for nosso.

 

Mas depois de o ter ganho abandonámos

alma e corpo à fadiga de o ter ganho.

Bartolomeu, não olhes. Não despertes

do sono que te dorme há cinco séculos.

 

Já o gume das quilhas não fecunda

teu ventre feminino, Mar aberto.

Falsa energia a nossa! Desflorado

teu sexo, Mar, aos corvos o cedemos.

 

Voluptuosa e saudável, tua carne

é convite e oferta como dantes.

Nós, mortos! Nós, sem força! Nós, sem fogo,

de uma saudade mole possuídos!


Sebastião da Gama Vila Nogueira de Azeitão, 1924 - Lisboa, 1952)

Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953)

17 de junho de 2025

o início de TORTO ARADO

«Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos.» Itamar Vieira Junior, Torto Arado, Alfragide, Leya, 2019, p. 13.

5 de junho de 2025

101 poemas portugueses - #66


Quando aqueles que chegavam
olhavam os que partiam
os que partiam choravam
os que ficavam sorriam

Mário Cesariny (Lisboa, 1923-2006)
Manual de Prestidigitação (1956)