20 de junho de 2025

as aberturas de BICHOS

 

11. «Farrusco». «Dentro da poça do Lenteiro, há rãs.»

10. «Ramiro». « --Deus nos dê muito bons dias!»

9. «Ladino». «Grande bicho, aquele Ladino, o pardal!»

8. «Cega-Rega». «É difícil.»

7. «Jesus». «Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:»

6. «Tenório». «Esta é a história verdadeira de Tenório, o galo.»

5. «Bambo». «O filho do caseiro novo é que lhe fez aquilo.»

4. «Morgado». «À ceia, o patrão, com cara de poucos amigos, recusara-lhe as festas desta maneira:»

3. «Madalena». «Queimava.»

2. «Mago». «Mago respirou fundo.»

1. «Nero». «Sentia-se cada vez pior.»


Miguel Torga, Bichos (1940), 19.ª ed, Coimbra, 1995 

17 de junho de 2025

o início de TORTO ARADO

«Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos.» Itamar Vieira Junior, Torto Arado, Alfragide, Leya, 2019, p. 13.

16 de junho de 2025

as aberturas de OS MEUS AMORES

15. «Manhã bendita». «Em casa do José Grilo, quando de manhãzinha lhe bateram à porta -- "Truz, truz, truz!" --, acordaram todos sobressaltados: "Quem demónio seria?!..."»

14. «António Fraldão». «Noite velha, saía o António Fraldão da casa da Alonsa, quando viu, a curta distância, escoar-se um vulto que parecia de gente.»

13. «"Vae Victis!"». «Não estava ninguém na fonte quando a Luísa, de cântaro deitado sobre a cabeça, ali chegou.»

12. «À lareira». «Louvado seja Deus, aquela casa da Tia Maria Lorna era das mais remediadas lá da aldeia, e até das mais alegres.»

11. «A Choca». «Aquela tarde, a Choca recolhera ao poleiro mais cedo do que o costume.»

10. «Luzia». «Mesmo ao fundo da povoação ficava, parece que já esquecida, a casita do António Valente.»

9. «"Terra Mater"». «Manhã de Julho.»

8. «Mãe!». «Bela cabra, a Ruça! -- posso dizê-lo aos senhores.»

7. «"Abyssus abyssum"». «Nesse dia, os dois pequenitos tinham jurado que haviam de ir ao rio.»

6.2. «Balada s - II. - Para a escola». «No velho casarão do convento é que era a aula.»

6.1. «Baladas - I. - Maricas» «Vocês lembram-se da Maricas, aquela magrinha de cabelos muito castanhos, quase louros, que morava defronte da redacção, lembram-se?»

5. «"Vae Victoribus!"». «Em Dezembro, às seis é noite cerrada.»

4.2. «Comédia da província - II. Tipos da terra». «Desembarcaram num largo.»

4.1. «Comédia da província - I. Prelúdios de festa». «Este ano, a Festa da Senhora das Dores devia ser coisa de estalo.» 

3. «Última dádiva». «Distante do rio apenas um tiro de bala ficava o horto do José Cosme, belo horto, ainda que pequeno, todo mimoso de frutas e hortaliças, fechado entre velhas paredes musgosas, atufadas em silvedo, comunicando com a estrada por um pequeno portelo mal seguro.»

2. «Sultão». «Ao cair da tarde, o Tomé da Eira entrava em casa cansado, esfalfado de andar um dia inteiro a mourejar no campo.»

1. «Idílio rústico». «Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atrás dele, era ainda muito cedo.»


Trindade Coelho, Os Meus Amores [1891], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.

9 de junho de 2025

as aberturas de PALAVRAS NÓMADAS

18. «We no Happy... we go!» «Partimos para Sanya, Hainão, num fim de semana alargado de Dezembro, sonhando com sol, banhos azuis no cálido imaginado Mar da China.»

17. «No dentista com o Pikachu». «Uma ida ao consultório de dentista nunca é uma experiência agradável nem desejada.»

16. «A via crucis da pele». «Há uns bons anos que a minha pele começou a ser abundantemente habitada de numerosos sinais, alguns deles a requererem certa vigilância, já que, resumindo, "sou uma moça com muita pinta".»

15. «Das uniões de facto aos tentáculos burocráticos». «Recordo uma canção da banda "Xutos e Pontapés", já com uns bons anos, intitulada "voar"  que começa assim: "Eu queria ser astronauta / o meu país não deixou".»

14. «Irrealidades oníricas». «Sabem aqueles sonhos em que vamos trabalhar nus ou em camisa de dormir?»

13. «Entre a corrida e a arte da palavra». «Durante anos, no início da década de noventa, quando era aluna de licenciatura, na Universidade de Évora e travessava o jardim (ao qual ironicamente chamávamos Hyde Park), a caminho do edifício do Colégio do Espírito Santo, sonhava estender-me na relva durante horas a ler, a contemplar o céu, em suave sintonia com as nuvens.»

12. «Lou Lim Leoc». «Passamos o portão, entramos num reino de magia.»

11. «No reino das lâmpadas». «Acordarmos de manhã cedo com o pescoço dorido e decidirmos comprar uma almofada mais confortável pode ter consequências verdadeiramente imprevisíveis.»

10. «Dia de São Pedreiro». «O processo de procura de casa em Macau é algo que ultrapassa as fronteiras da mais fértil imaginação.»

9. «A chegada: no dorso do dragão». «Chega-se a Macau, a chamada "Las Vegas do Oriente", depois de 27 horas de viagem, uns emplastros nas costas, curvada devido a fortes dores que começam a habitar o corpo na véspera.»

8. «Macau -- cheiros, sabores e saberes colados à alma». «Vi Macau, pela primeira vez, em Agosto de 1991 -- um prémio de escrita inesperado, quando terminara o primeiro ano da minha licenciatura -- conduziu-me àquele universo, onde tudo era diferente, e, ao mesmo tempo, embrulhado na breve névoa da familiaridade.»

7.  «Em Amherst: no universo de Emily Dickinson». «Uma carícia fria a semear salpicos de branco no rosa-dourado, nos múltiplos tons de castanho das árvores.»

6. «Numa esquadra em Montevideu: entre as paredes do devaneio». «Estamos na esquadra da polícia de Montevideu.»

5. «Pouca sorte com cabeleireiros». «Manhã de luz em Montevideu, um sol de inverno que brilha mas não aquece.»

4. «Da identidade provisória e amarela». «Estou novamente nessa longa fila, numa rua erma, escondida da Cidade Velha, de uma decadência cinzenta a escamotear tempos áureos já quase esquecidos, junto ao edifício das migrações, a destoar do panorama humano que me rodeia.»

3. «O dragão da biblioteca». «Entro agora na biblioteca da Faculdade de Humanidades da Universidade da República Oriental do Uruguai.»

2. «A visitante». «Abro as portas da memória e entro num dia de Março de 2002, uma página de calendário já desbotada, arrancada dos muros escorregadios do tempo.»

1. «Voo para um novo tempo». «Revejo aquele 30 de Novembro de 2001 como uma espécie de retrato a sépia posto em cima da cómoda da memória, as horas atribuladas, a ida de comboio para Lisboa, depois de táxi para o aeroporto.»


Dora Nunes Gago, Palavras Nómadas, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2023.

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5 de junho de 2025

101 poemas portugueses - #66


Quando aqueles que chegavam
olhavam os que partiam
os que partiam choravam
os que ficavam sorriam

Mário Cesariny (Lisboa, 1923-2006)
Manual de Prestidigitação (1956)