30 de julho de 2015

6 de julho de 2015

À NOITE DE NATAL, Frei Agostinho da Cruz


Era noite de inverno longa e fria,
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha cor, que ter soía.

Quando nas palhas duma estrebaria,
Entre dois animais brutos lançado,
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino Jesus pobre jazia.

-- Meu amor, meu amor, porque quereis
(Dizia Sua Mãe) nesta aspereza
Acrescentar-me as dores que passais?

Aqui nestes meus braços estareis;
Que, se Vos força amor sofrer crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.


Poesias Selectas de Frei Agostinho da Cruz, edição de Augusto C. Pires de Lima, 2.ª ed., Porto, Editorial Domingos Barreira, s.d., pp. 41-42.

(lido na sesão de 3 de Julho de 2015)




5 de julho de 2015

2 de julho de 2015

um parágrafo de O NOVIÇO


«O lume nunca se extinguia de todo na lareira, o que fazia com que da chaminé da cozinha escapasse perenemente para a atmosfera um farrapo de fumo, qual minúsculo e já roto lábaro, assinalando ao longe, perdido na serra, o pequeno eremitério. Mesmo durante a noite havia sempre um tição aceso na favila: sendo preciso amornar um púcaro de água ou atear o pavio de uma vela, bastava soprar na cinza e logo uma centelha sorria.»

Fernando Faria, O Noviço, Lisboa, By The Book, 2015, p. 94 -- em debate no Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro, amanhã, 3 de Julho, pelas 18 horas.

Hermann Hesse, 138



(Calw, Baden-Württemberg, 2 de Julho de de 1877)

1 de julho de 2015

O poema inacabado de Bentinho, em Dom Casmurro

Sem virtudes notórias, o soneto brincalhão, com que pretendi parodiar a paixão de Bentinho, personagem notável de Machado de Assis, tinha ficado no seu habitat natural, entre outros papeis sem futuro.
Aí morreria se o Confrade Fernando Faria não me tivesse instado, de viva voz, a dar-lhe luz, referindo desafio já feito em Comentário que me escapara.
Dois pensamentos acudiram à testa:
"sincera-mente!"
"como bom Noviço, faz o que te indicam."
Pego então no primeiro verso e nos dois últimos, em alternativa.

OH! FLOR DO CÉU! OH FLOR CÂNDIDA E PURA,
Porque me escondes esse olhar candente?
C'um piscar de olho, seria contente
E largaria, aos pés, esta tortura.

Para os meus males essa era a cura
Deste doer... pior que dor de dente.
Vá! Não te rias, que me pões doente.
Olha p'ra mim: vê quanta ternura!

Que bom seria nós os dois, juntinhos,
A rebolarmos entre flores e palha,
As mãos tecendo mil e um carinhos!

Assim, arisca... ai que Deus me valha!
Mato-me: um tiro e vou para os anjinhos...
PERDE-SE A VIDA, GANHA-SE A BATALHA

ou, respeitando a alternativa de "Bentinho de Assis"

Assim, amen!, nada há que valha
A esta sede louca de beijinhos.
GANHA-SE A VIDA, PERDE-SE A BATALHA