UM PEQUENO EXCERTO...
"Os lojistas, tementes, baixavam os preços da fruta, nada cobravam por um quilo de ameixas de Santo António, o feijão catarino e as batatas-de-hortelã uma coisa de nada, receando que as mães do povo lhe invadissem os cubículos, os comerciantes de roupa ofereciam dois fatos cinzentos com camisa branca e gravata a quem comprasse um, ninguém comprava, fatos cinzentos ninguém comprava..."
... e até sexta!
30 de março de 2016
28 de março de 2016
o dia da morte de Virginia Woolf
18 de março de 2016
imagens de Linhas Entre Nós IV
(últimas)
"As Botas do Zé" é uma narrativa de sentimentos múltiplos, com eventual virtude de fazer amentar um rol de personagens que tentarei ir-lhe apresentando.
Recorda o dia em que António estreia os primeiros sapatos, e a Banda chega ao Valazedo? Adelino (AJ) e Joaquim (JJ), que entram em contenda, vinham fardados assim.
(Padre Parente, que conhecemos de outras histórias, aparece com a batuta de maestro).
Alguns anos depois, já António andava calçado e era músico brioso.
Aproveito a fotografia para lhe apresentar alguns dos personagens, principais e secundários, desta história e de "Água".
AdJ- Adelino Jorge; JqJ - Joaquim Jorge; PP- Padre Parente; AnJ- António Jorge; MnM- Manuel Marcos; JSJ- José Jorge; AnM- António Marcos; JAs- José Ascenção; JsA- José Ambrósio; JoM- João Marcos; JsM- José Marcos.
Um salto no conto vai levar-nos à ruela do Passadiço e à esquina da Igreja da Misericórdia, onde António, perseguido por se afoitar em freguesia alheia, em namoros atrevidos, clamou pelo socorro do "Muxano".
E o tempo passou: António "assentou do juízo", como se diz por Manteigas, casou-se, arranjou melhor emprego, engendrou o Zé, a Teresa pediu-lhe que fizesse uns sapatinhos para o menino, o antigo sapateiro aprimorou-se, e saiu obra perfeita. ("dignos do Menino Jesus", "dignos da montra do senhor Miguel Esteves").
A Milu, entretanto, escondida sob o fato da mãe, ia já dando conta das coisas.
"As Botas do Zé" é uma narrativa de sentimentos múltiplos, com eventual virtude de fazer amentar um rol de personagens que tentarei ir-lhe apresentando.
Recorda o dia em que António estreia os primeiros sapatos, e a Banda chega ao Valazedo? Adelino (AJ) e Joaquim (JJ), que entram em contenda, vinham fardados assim.
(Padre Parente, que conhecemos de outras histórias, aparece com a batuta de maestro).
Alguns anos depois, já António andava calçado e era músico brioso.
Aproveito a fotografia para lhe apresentar alguns dos personagens, principais e secundários, desta história e de "Água".
AdJ- Adelino Jorge; JqJ - Joaquim Jorge; PP- Padre Parente; AnJ- António Jorge; MnM- Manuel Marcos; JSJ- José Jorge; AnM- António Marcos; JAs- José Ascenção; JsA- José Ambrósio; JoM- João Marcos; JsM- José Marcos.
Um salto no conto vai levar-nos à ruela do Passadiço e à esquina da Igreja da Misericórdia, onde António, perseguido por se afoitar em freguesia alheia, em namoros atrevidos, clamou pelo socorro do "Muxano".
E o tempo passou: António "assentou do juízo", como se diz por Manteigas, casou-se, arranjou melhor emprego, engendrou o Zé, a Teresa pediu-lhe que fizesse uns sapatinhos para o menino, o antigo sapateiro aprimorou-se, e saiu obra perfeita. ("dignos do Menino Jesus", "dignos da montra do senhor Miguel Esteves").
A Milu, entretanto, escondida sob o fato da mãe, ia já dando conta das coisas.
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17 de março de 2016
EÇA DE QUEIROZ E A RAINHA
«De Principes,
só conheço o coração daquelles, tão raros! que foram poetas, como o meu gentil
Charles d´Orléans, e que puzeram todo o seu coração em Randós e Villancetes.
Depois, a presença angustiosa das misérias humanas, tanto velho sem lar, tanta
creacinha sem pão, e a incapacidade ou indiferença de Monarchias e Republicas
para realisar a unica obra urgente do mundo – «a casa para todos, o pão para
todos», lentamente me tem tornado um vago anarchista entristecido, idealisador,
humilde, inoffensivo… Anarchismo, mesmo vago; tristeza, mesmo philosophica; idealisação,
mesmo escondida – não compõem um bom cortezão. Mas uma rainha gracieuse, bonne et belle, certamente me
encanta. E, pois que o nosso pobre Mundo tanto necessita de doçura e bondade,
sinceramente creio na vantagem social de que, por vezes, uma Rainha, irradie um
pouco da sua doçura, da sua bondade, sobre os costumes, o espírito e as leis.» --- EÇA DE QUEIROZ, Notas Contemporâneas.
--- Confrontar com MIGUEL REAL, As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia, capítulo "Julho - Os escritores"
16 de março de 2016
o dia da morte de Selma Lagerlöf
Selma Lagerlöf morreu na mesma casa de Marbacka em que nasceu,
na Varmaland (Noruega), em 16 de Março de 1940
15 de março de 2016
imagens de Linhas Entre Nós III
A Serra da Estrela, que abraça Manteigas pelo norte e pelo nascente, é o cenário mais importante de "Quem Bem Faz Para Si Faz" e de "Viril, Alto", numa evidência que o amor e o ódio, a paz e a guerra são frutos do homem e não da natureza.
Acompanhemos dois dos personagens discretos, os avós Manuel de Jesus e Maria José (na imagem, subindo a Rua do Eirô),
na visita a alguns dos locais referidos nas histórias.
Onde era o ermitério de São Lourenço,
ainda hoje podemos tentar o contacto com o sentimento do divino, convidados pela sua capela, à sombra de árvores seculares.
Já quase à entrada de Manteigas, a capela de Nossa Senhora de Fátima,
respeitosamente saudada pelo narrador da primeira história, que, pouco depois, entra na velha rua da Carreira
(onde teria morado Idalina, de A Lã e a Neve), a caminho de casa.
O planalto de Campo Romão,
chão regado pelo sangue da peleja entre lusitanos e romanos, que culminou na Fraga da Batalha,
está sobrejacente ao vale paradisíaco da Castanheira,
junto ao Munda (Mondego), que o nosso primeiro herói terá escolhido para habitar, a coberto das esculcas invasoras. Na margem direita (à esquerda, na foto) lhe terá sido prestada a homenagem final, com um grito uníssono da Lusitânia.
Convidativo, pela beleza indutora de paz, mantém um apelo a visita demorada.
Acompanhemos dois dos personagens discretos, os avós Manuel de Jesus e Maria José (na imagem, subindo a Rua do Eirô),
na visita a alguns dos locais referidos nas histórias.
Onde era o ermitério de São Lourenço,
ainda hoje podemos tentar o contacto com o sentimento do divino, convidados pela sua capela, à sombra de árvores seculares.
Já quase à entrada de Manteigas, a capela de Nossa Senhora de Fátima,
respeitosamente saudada pelo narrador da primeira história, que, pouco depois, entra na velha rua da Carreira
(onde teria morado Idalina, de A Lã e a Neve), a caminho de casa.
O planalto de Campo Romão,
chão regado pelo sangue da peleja entre lusitanos e romanos, que culminou na Fraga da Batalha,
está sobrejacente ao vale paradisíaco da Castanheira,
junto ao Munda (Mondego), que o nosso primeiro herói terá escolhido para habitar, a coberto das esculcas invasoras. Na margem direita (à esquerda, na foto) lhe terá sido prestada a homenagem final, com um grito uníssono da Lusitânia.
Convidativo, pela beleza indutora de paz, mantém um apelo a visita demorada.
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13 de março de 2016
Mais Linhas Entre Nós
"- Ai é?! Mil litros?!
Passou-se a palavra, e a partir desse dia, a Josefa do Estêvão, a Maria José Marcos, a mulher do José Espanhol, a Antónia do Bernardo e outras vizinhas e amigas passaram a calcular, dia a dia, o consumo de água como se fosse azeite, (indo amparando com uns cântaros da fonte, para que os mil litros de direito dêem para comida, bebidas e lavagens, porque, para os trapos, o ribeiro leva muita, graças a Deus.) " in Linhas entre Nós, J. A. Marcos Serra, Ed. de autor, 2015, P. 58
Tal como me desejou, José Serra, na sua dedicatória, a leitura deste livro trouxe-me verdadeiros momentos de prazer e motivação bastante para "ir conhecer a terra e serras lindas que lhe serviram de cenário."
Diz Fernando Faria, que este livro é um verdadeiro tratado de antropologia pelo manancial de informações que nos traz. É verdade.
Para mim, lisboeta de três costados, o "ir à terra" foi durante muito tempo algo insignificante e sem valor, pelo desconhecido a que a expressão me remetia. Até ao dia em que me tomei de amores por um Alentejano e finalmente, fui à terra. Apreendi então, outro mundo de cores, cheiros, sons, histórias de vida e costumes...E de algum modo senti-me ligada a tudo como se sempre tivesse feito parte de mim.
Obrigada José, por todas as linhas que tanto me acrescentaram. Fiquei com saudades da terra!
Aqui fica um rabisco que fiz do José na sessão de leitura de A Missão.
Foi um comentário polémico o do José... ;)
11 de março de 2016
imagens de Linhas Entre Nós - II
Acompanhe, antes de mais, a caminhada longa e paciente que Ti Simão faz, acompanhado do Fiel, subindo a encosta íngreme, de Manteigas até às proximidades do Seixo Branco (no mapa, em linha laranja).
Passará pelo Observatório Meteorológico (popularmente, Casa das Gadanhas), pela Casa da Fraga
(primeiro Sanatório experimental, por iniciativa do Dr. Sousa Martins), com a Fraga da Cruz a impor-se, de vários ângulos, à sua admiração curiosa e aventureira.
Do seu cume, a vila parece despenhada lá no fundo, depois de um voo no vazio: arrepie-se.
Acompanhará o pastor a ver o despertar do dia, com o sol a refletir-se no fraguedo das Penhas Douradas em refulgências inesquecíveis.
Sentir-se-á esmagado pelo volume ciclópico do Frade e Freira, perdidos na serrania, a contemplarem a Fraga da Cruz, ali perto, e o Fragão do Corvo, já vizinho da Villa Alzira, onde Afonso Costa se resguarda da voragem da política, em busca de paz e, quem sabe, de algum arrependimento, sucumbindo à dúvida que inquieta.
Naquela noite, depois da conversa com o pastor, saiu de casa, vigiado pela Dourada, sua cadela de estimação, subiu ao Fragão do Corvo, e, esmagado pela calote de estrelas e a visão bruxuleante de Manteigas, lá no fundão do Zêzere, (disse a guardiã), chorou.
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o dia da morte de Manuel da Fonseca
8 de março de 2016
imagens de Linhas Entre Nós
Livro tecido com muitos personagens bem guardados na memória, que vão delineando histórias em cenários que não foi preciso inventar, porque não desvendar alguns, correndo o risco de trair a imaginação de cada leitor?
Que me perdoem os que prefeririam não cotejar com a realidade, sabendo que podem sempre optar por não ver o que partilho neste espaço.
No respeito pelos direitos de autor, devo declarar que, para além de arquivo pessoal, apresento imagens que são propriedade de: "Manteigas em Imagens", "Museu Virtual de Manteigas", "Banda Boa União", "Old-postcards", "Joraga" e "Postais Portugal", além de outras fontes da internet, não identificadas.
Comecemos, pois.
A primeira história começa com Jorge Duarte Serra, de quem se escreve que tinha "cara de mata-mouros", era caçador e sapateiro e, ainda orgulhosamente, sócio fundador da Banda Boa União.
O medo o terá obrigado a "meter medo".
Perdeu-se a espingarda, mas a machada ameaçadora continua pronta a cortar.
Os padres Joaquim Dias Parente e José Baylão Pinheiro aparecem como conspiradores benignos, em funções de bons pastores. Figuras notáveis, o primeiro aparece personificado em A Lã e a Neve como Padre Barradas.
A secretária do seu escritório, descrita sucintamente em "Água", continua guardada afetuosamente por mãos saudosas, em Manteigas.
De sua autoria, entoou-se em todo o mundo católico o cântico religioso mais célebre: "Santos Anjos e Arcanjos". O texto cita ainda partes do "Hino à Imaculada Conceição" que, sessenta anos após a sua morte, continua a cantar-se na Igreja de Santa Maria.
Seu braço direito, Bernardo Marcos Leitão, foi artista ímpar e inesquecível.
Foram homenageados com a atribuição de nomes a uma rua e largo contíguos, nas imediações da Igreja que lhe uniu os destinos e a vida.
Do templo antigo há registo de vista parcial que mostra a rua e, ao fundo, o largo mencionados. A chave, extraordinária, da porta desse edifício antigo está também à guarda de gente cuidadosa da vila.
O Eirô, também celebrado por Ferreira de Castro, aparece como lugar capital, ou importante, em quatro das histórias; naturalmente, por se tratar de um dos núcleos mais antigos da vila.
No Eirô, ao cimo da quelha,
se arma a discussão entre as moradoras e o funcionário da Câmara, incendiando um dos focos da rebelião.
No Eirô mora o pequeno aprendiz de sapateiro, e no Eirô, na Praça da Louça, está a oficina onde começa a labutar.
No Eirô mora Manuel de Jesus (e morei eu durante seis anos).
No mesmo sítio, em tempos de exageros republicanos, Manuel Marcos Leitão (na foto)
escondeu a custódia de ouro da Igreja de Santa Maria, ainda hoje usada em cerimónias religiosas de maior pompa.
Curiosidades associadas ao conto "Água" são ainda a menção da Casa das Obras,
solar de referência em Manteigas, e o personagem Joaquim da Cruz, secretário da Câmara.
No que se refere ao funcionário inteligente e dedicado, à falta de imagem disponível, deixo a capa de um livro que, provavelmente, todos conhecemos. Um dos autores, Cruz Filipe, é filho do homem zeloso que ainda conheci, porque, aposentado, continuava, com pontualidade inultrapassável, a ir ajudar com a sua experiência; ainda aprendi algumas coisas com ele.
Que me perdoem os que prefeririam não cotejar com a realidade, sabendo que podem sempre optar por não ver o que partilho neste espaço.
No respeito pelos direitos de autor, devo declarar que, para além de arquivo pessoal, apresento imagens que são propriedade de: "Manteigas em Imagens", "Museu Virtual de Manteigas", "Banda Boa União", "Old-postcards", "Joraga" e "Postais Portugal", além de outras fontes da internet, não identificadas.
Comecemos, pois.
A primeira história começa com Jorge Duarte Serra, de quem se escreve que tinha "cara de mata-mouros", era caçador e sapateiro e, ainda orgulhosamente, sócio fundador da Banda Boa União.
O medo o terá obrigado a "meter medo".
Perdeu-se a espingarda, mas a machada ameaçadora continua pronta a cortar.
Os padres Joaquim Dias Parente e José Baylão Pinheiro aparecem como conspiradores benignos, em funções de bons pastores. Figuras notáveis, o primeiro aparece personificado em A Lã e a Neve como Padre Barradas.
A secretária do seu escritório, descrita sucintamente em "Água", continua guardada afetuosamente por mãos saudosas, em Manteigas.
De sua autoria, entoou-se em todo o mundo católico o cântico religioso mais célebre: "Santos Anjos e Arcanjos". O texto cita ainda partes do "Hino à Imaculada Conceição" que, sessenta anos após a sua morte, continua a cantar-se na Igreja de Santa Maria.
Seu braço direito, Bernardo Marcos Leitão, foi artista ímpar e inesquecível.
Foram homenageados com a atribuição de nomes a uma rua e largo contíguos, nas imediações da Igreja que lhe uniu os destinos e a vida.
Do templo antigo há registo de vista parcial que mostra a rua e, ao fundo, o largo mencionados. A chave, extraordinária, da porta desse edifício antigo está também à guarda de gente cuidadosa da vila.
No Eirô, ao cimo da quelha,
se arma a discussão entre as moradoras e o funcionário da Câmara, incendiando um dos focos da rebelião.
No Eirô mora o pequeno aprendiz de sapateiro, e no Eirô, na Praça da Louça, está a oficina onde começa a labutar.
No Eirô mora Manuel de Jesus (e morei eu durante seis anos).
No mesmo sítio, em tempos de exageros republicanos, Manuel Marcos Leitão (na foto)
escondeu a custódia de ouro da Igreja de Santa Maria, ainda hoje usada em cerimónias religiosas de maior pompa.
Curiosidades associadas ao conto "Água" são ainda a menção da Casa das Obras,
solar de referência em Manteigas, e o personagem Joaquim da Cruz, secretário da Câmara.
No que se refere ao funcionário inteligente e dedicado, à falta de imagem disponível, deixo a capa de um livro que, provavelmente, todos conhecemos. Um dos autores, Cruz Filipe, é filho do homem zeloso que ainda conheci, porque, aposentado, continuava, com pontualidade inultrapassável, a ir ajudar com a sua experiência; ainda aprendi algumas coisas com ele.
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Igreja de S. Pedro,
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Padre Joaquim Dias Parente,
Padre José Bailão
6 de março de 2016
Ainda acerca da memorável sessão de 4 de Março...
LINHAS ENTRE NÓS é um livro muito especial. Acima de tudo, porque se trata de uma partilha de experiências de vida do autor, nos seus já remotos tempos de infância.
Ao lê-lo, sentimo-nos transportados para uma casa serrana de granito, numa qualquer noite de invernia, onde, sentados à lareira num rústico banco de pinho e envoltos em odores de resinas e rosmaninho, escutamos histórias de encantar, enquanto comiscamos castanhas assadas no borralho, acompanhadas de jeropiga, servida em copos de vidro grosso e cheios de dedadas.
Para além do prazer da leitura (o livro está repleto de excelentes nacos de prosa), obras como esta - verdadeiros tratados de antropologia e etnografia - proporcionam mananciais de informação acerca de povos, lugares, costumes e épocas, que, se não for registada, corre o risco de perder-se para sempre.
Acho a infância de José M. Serra, tão bem retratada neste livro, comparável à minha, que lhe foi coeva, ainda que passada numa aldeia da Beira Litoral. Pela modéstia no viver, pela escassez de tudo, pela envolvência e cumplicidade com a terra, as pedras, as árvores, os bichos, pela solidariedade entre as pessoas, pela magia das noites de luar, pelo temor das trovoadas, pelo deslumbramento do nascer do Sol, pelo prazer inenarrável de comer a fruta da própria árvore...
Ler LINHAS ENTRE NÓS deixou-me uma forte vontade de revisitar Manteigas e a majestosa Estrela (de preferência guiado pelo Zé Serra).
Fernando Faria
3 de março de 2016
LINHAS ENTRE NÓS
"Quem, a partir dali, deslizasse os olhos para a direita, veria que a noite fora violada por fogueira mole, de crepitar surdo. À volta, com o ar fantasmagórico que o bruxulear do fogo imprime às coisas, treze homens estavam sentados sobre troncos derrubados, dispostos no espaço, em ferradura gigantesca. O som das vozes é baixo, e todo aquele enigma dá vontade de aproximar, intentando ouvir.
«...e volto a repetir que o general dos romanos não nos merece confiança... ou já esqueeram, alguns de vós, o número de vidas que nos custou o ter acreditado em emissários de Roma?!...»"
(Viril, Alto, pg. 116)
2 de março de 2016
o dia da morte de Goethe
Goethe na Campagna Romana, por Johann Heinrich Tischbein (1787) |
Goethe morre em Weimar, em 22 de Março de 1832
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