28 de janeiro de 2025

as aberturas de CONTOS EXEMPLARES

 

7. «Os três reis do Oriente». «Naquele tempo, na cidade de Kalash, o príncipe Zukarta instaurou o culto do bezerro de oiro.»

6. «O homem». «Era uma tarde do fim de Novembro, já sem nenhum Outono.»

5. Homero». «Quando eu era pequena, passava às vezes pela praia um velho louco e vagabundo a quem chamavam o Búzio.»

4. «Praia». «Era uma espécie de clube de Verão.»

3. «Retrato de Mónica». «Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da "Liga Internacional das Mulheres Inúteis", ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, toda a gente gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.» 

2. «A viagem». «A estrada ia entre campos e ao longe, às vezes, viam-se serras.»

1. «O jantar do bispo». «A casa era grande, branca e antiga.»


Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares [1962], 4.ª ed., Lisboa, Portugália, s.d.

23 de janeiro de 2025

101 poemas portugueses #58


O SONHO SEM DESTINO


Se os caminhos são breves
e os dias tão compridos,
e as tuas mãos mais leves
que a espuma dos vestidos;

se é de ti que me ondeia
uma brisa subtil...
E a vaga diz: -- Sereia!
E o sonho diz: -- Abril!

Se cresces e dominas
os campos que acalento,
e inundas as colinas
de fontes que eu invento;

se tens na luz dos olhos
o misterioso apelo
das cidades de fogo,
das cidades de gelo;

se podes bem guardar
na tua mão fechada
o meu altivo Tudo
e o meu imenso Nada;

se cabe nos meus braços
a bruma que tu és,
e em algas e sargaços
te abraço nas marés;

se, puro, na presença
da nossa grande Casa,
pões na voz de horizonte
um lume de asa e brasa.

Não sei porque te sonho
na sombra matinal,
e ao meu lado te vejo,
real e irreal.

Sabeis -- adaga fria,
que ao meu peito cintilas --
onde se oculta o dia 
das aragens tranquilas?

Se tudo sabes, mata
com dedos de oiro fino,
ou com gume de prata,
o sonho sem destino!


Natércia Freire (Benavente, 1919 - Lisboa, 2004)

Anel de Sete Pedras (1952 /

/ in Ana Hatherly, Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa (1960)

14 de janeiro de 2025

pedra-de-toque #13

«Eu, muito simplesmente, emagrecia porque as nuvens que me alimentavam andavam cada dia mais escassas.» 

Félix Cucurull, «Carta de despedida», Antologia do Conto Moderno; trad. Manuel de Seabra

13 de janeiro de 2025

101 poemas portugueses #57


FESTA ALEGÓRICA


O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte de soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas:
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem.
A festa acabou numa sangueira total:
porém havia muito tempo que o imperador
e a corte e o povo não se riam tanto.
O bobo, esse tinha por dever bem pago
o fabricar as piadas para fazer rir.


SB, 7/1/74

Jorge de Sena (Lisboa, 1919 - Santa Bárbara, Califórnia, 1978)´
40 Anos de Servidão (póst., 1979)

4 de janeiro de 2025

pedra-de-toque #12

«É impossível que certas flores sejam filhas das grosseiras plantas de que brotam.» 

Fialho de AlmeidaO País das Uvas (1893)

2 de janeiro de 2025

o início de EU À SOMBRA DA FIGUEIRA DA ÍNDIA

«A gente lá em Luanda tinha umas barrocas debaixo da casa, para onde dava a balaustrada do jardim.» Alberto Oliveira Pinto, Eu à Sombra da Figueira da Índia, Porto, Edições Afrontamento, 1990, p. 9.