27 de julho de 2011

e assim começa O JOGADOR

Finalmente regressei da minha ausência de duas semanas. Havia já três dias que o nosso grupo estava em Roletenburgo. Eu pensava que eles esperavam por mim com uma impaciência que só Deus sabe, mas estava enganado. O general olhou-me com extrema indiferença, falou comigo com arrogância e mandou-me ir ter com a sua irmã. Era evidente que eles tinham arranjado dinheiro em qualquer parte. Até me pareceu que o general tinha um certa vergonha de olhar para mim. Maria Filíppovna andava extremamente ocupada e quase não falou comigo, mas no entanto aceitou o dinheiro, contou-o e escutou todo o meu relatório. Para o jantar esperavam Mezentsov, o francezinho e um qualquer inglês; como é costume, assim que há algum dinheiro organiza-se logo um jantar: tal como em Moscovo. Polina Aleksándrovna, quando me viu, perguntou porque me demorei tanto e desapareceu sem esperar resposta. É claro que o fez de propósito. No entanto, precisamos de ter uma explicação. Há muitas coisas acumuladas.

Fiódor Dostoieveski, O Jogador, tradução e notas de António Pescada, Lisboa, Biblioteca Editores Independentes #19, 2007, p. 7. 

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