17 de julho de 2011

NOCTURNO, Antero de Quental

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo -- triste e lento --
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Poesia da Noite, selecção e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa, Neo-farmacêutica, 1970, p. 21. 


(lido na sessão de 4 de Fevereiro de 2011)

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