Assim está o centenário Arcénio de Carpo, de A Conjura, cujos hábitos inalteráveis determinavam o horário de uma parte do comércio e dos serviços de Luanda: «Assim, de manhãzinha, mal o viam assomar ao topo da Rua Direita, os lojistas conheciam que era chegada a hora de estender os panos nos varais [...]. E quando, Sol alto, o velho, saindo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, atravessava o Largo da Alfândega para entrar na tasca do Martins, meio mundo largava mão do que estivesse a fazer e ia almoçar sossegadamente [...]. Depois, Arcénio saía da tasca e ia sozinho passear [...] e o povo sabia que eram exactamente cinco horas da tarde. O velho regressava arrastado pelos primeiros ventos e era então que os lojistas fechavam as portas e os amanuenses trocavam os escritórios pelos pelos bancos das tabernas ou as bermas sujas dos passeios públicos.»
José Eduardo Agualusa, A Conjura, Alfragide, Leya, 2008, p. 114.