12 de novembro de 2014

(IDEIAS AVANÇADAS...)

"Parecerá paradoxo a estes Catões portugueses ouvir dizer que as mulheres devem estudar; contudo, se examinarem o caso, conhecerão que não é nenhuma parvoíce ou coisa nova, mas bem usual e racionável.
Pelo que toca à capacidade, é loucura persuadir-se que as mulheres tenham menos que os homens. Elas não são de outra espécie no que toca à alma; e a diferença do sexo não tem parentesco com a diferença do entendimento.
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Quanto à necessidade, eu acho-a grande, que as mulheres estudem. Elas, principalmente as mães de família, são as nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida: elas nos ensinam a língua; elas nos dão as primeiras ideias das coisas. E que coisa boa nos hão-de ensinar, se elas não sabem o que dizem?
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Além disso, elas governam a casa, e a direcção do económico fica na esfera da sua jurisdição. E que coisa boa pode fazer uma mulher que não tem alguma ideia da economia?
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Muito mais porque não acho texto algum da lei, ou sagrada ou profana, que obrigue as mulheres a serem tolas e não saberem falar. As freiras já se sabe que devem saber mais alguma coisa, porque hão-de ler livros latinos. Mas eu digo que ainda as casadas e donzelas podem achar grande utilidade na notícia dos livros. Persuado-me que a maior parte dos homens casados que não fazem gosto de conversar com as suas mulheres e vão a outras partes procurar divertimentos pouco inocentes, é porque as acham tolas no trato.
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Certo é que uma mulher de juízo exercitado saberá adoçar o ânimo agreste de um marido áspero e ignorante...
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(lido na sessão de 4ª feira, 12 de Novembro)

3 comentários:

  1. Grande momento iluminsita no Museu Ferreira de Castro :)

    (Não esquecer que Verney viveu entre 1713 e 1792...)

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  2. As ideias de Verney não tiveram, pelos vistos, grande aceitação.
    Só praticamente dois séculos depois é que, por fim, as mulheres tiveram acesso igual ao dos homens à instrução e a outras coisas igualmente importantes.

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  3. Porque os horizontes não são iguais para todos.

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