31 de março de 2025

"Ribatejo e Estremadura -- Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção"


 

Colecção que tem como principal  coordenadora a nossa colega Ana Cristina Carvalho, o volumes respeitante ao Ribatejo e à Estremadura será apresentado no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, no próximo sábado, pelas 16 horas.

27 de março de 2025

101 poemas portugueses - #62

 

QUATRO


(Em memória do grande Amigo

Joaquim Manuel Maia de Jesus)

 

A rosa vermelha última a que te prendeste

A rosa vermelha nas mãos duma menina

Aquela maçã que tu deste e não comeste

E nestes quatro versos está a tua sina

 

Partiu-se a lua num quarto desesperado

E entrou louca pelo quatro vidros do hospital

Quatro homens levaram teu corpo gelado

E a menina escondeu duas mãos no avental

 

Ali na encruzilhada de todos os ventos

Tristes contando às ondas tão triste nova

Braços de pinheiros bravos foram lamentos

À rosa dos ventos lendo a verdade toda

 

Só aquela cadela que corria ao luar

Anda a uivar pelos caminhos a tua morte

São quatro patas pelo chão a caminhar

Arrastando a raiva humana da tua sorte.

 

Matilde Rosa Araújo (Lisboa, 1921-2010),

As Folhas de Poesia Távola Redonda

(edição de António Manuel Couto Viana, 1988)

17 de março de 2025

"Ferreira de Castro lido por Jaime Brasil"

 



"Conversas sobre Ferreira de Castro" - Sexta-feira, 21 de Março, 18 horas, no Museu Ferreira de Castro.





Com tactilização (degustação táctil) dos seus livros:

















 

Jaime Brasil (1896-1966), grande jornalista cultural, repórter, escritor, biógrafo, polemista e divulgador, foi um dos mais próximos amigos de Ferreira de Castro, cujas actividade literária e vida pessoal acompanhou de perto durante mais de quarenta anos, até à sua morte.

Os mais velhos, ligados à literatura e aos livros, conhecem-no, pelo menos de nome; mas se já com os ficcionistas -- poetas, romancistas e todos os outros -- é difícil conseguir que se mantenham à tona neste tempo voraz, os ensaístas e afins estão destinados aos alfarrabistas e a um público muito especializado.

Jaime Brasil não foi apenas um oficiante das "artes e das letras" -- título da página que durante algumas décadas coordenou n'O Primeiro de Janeiro -- mas um homem de acção: militar insurrecto, voluntário na Guerra Civil de Espanha, anarquista, jornalista, sindicalista, oposicionista, preso político, homem generoso, porém complicado e por vezes truculento. 

Escritor de ideias de primeira água, nos vinte livros que publicou avulta o género biográfico: de Rodin a Leonardo e Velázquez, ou de Balzac a Ferreira de Castro, passando por Victor Hugo e Zola, entre outros, e também a polémica, a reportagem, ou os de sexualidade, numa perspectiva libertária e emancipação feminina.

De que modo ele leu Ferreira de Castro é o que tentaremos descobrir.



9 de março de 2025

101 poemas portugueses - #61

 

NATAL DE POBRES


Quando a mulher adormeceu

naquela noite de Natal,

o homem foi, pé ante pé,

pôr um sapato (dela, não seu)

com um embrulho de jornal

na lareirinha da chaminé.

 

Um casal pobre... um ano mau...

Era um pedaço de bacalhau.

 

Ora alta noite, pela janela,

com fome e frio, entrou um gato

que, no escuro, cheirando aquela

comida boa no sapato,

rasgou o embrulho, comeu, comeu

e, quente e farto, adormeceu.

 

De manhã cedo, ela acordou,

foi à cozinha e viu o gatinho

adormecido no seu sapato.

Voltando ao quarto, feliz, falou

para o seu homem: -- Meu amorzinho,

como soubeste que eu queria um gato? 


Leonel Neves (Faro, 1921 - Odiáxere, Lagos, 1996),

O Menino e as Estrelas (1979)