4 de outubro de 2011

FRÉMITO LITERAL, António Duarte Camacho de Brito Figueirôa

frémito literal ou palavra tressuada
a morder as gengivas deputadas

um olhar crepe rés ao barro
a terra entumescida o sexo venal
o gesto afásico nos contornos flácidos
da várzea informe

palavra desconhecida inventada
o estrépito adstrito
vagalhão real
a pedra revolta
palavra desenhada para ser esquecida

recordação migratória em que te embalas
nas profundezas da madrugada
sublime o entendimento
em que arrastas o foco
do regozijo baço:
é um tempo quebrado ao longo
das portas que já não abrigam o movimento
enquanto a dor se refresca num largo voo

frémito literal ou palavra tressuada
a morder as gengivas deputadas

um sangue que acaricia ao ritmo
dum olhar que passa
o grito duma terra indecisa
a força da memória derrotada pelo lamento
nu e húmido

na fronte o vil metal
na boca o pão sem sal: frémito

Da Ilha que Somos, coordenação e prefácio de A. J. Vieira de Freitas, Funchal, Câmara Municipal, 1977, p. 17.
(lido numa sessão de 2011)

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