Divinas mãos e pés, peito rasgado,
Chagas em brandas carnes imprimidas,
Meu Deus, que, por salvar almas perdidas,
Por elas quereis ser crucificado.
Outra fé, outro amor, outro cuidado,
Outras dores às Vossas são devidas,
Outros corações limpos, outras vidas,
Outro querer no Vosso transformado.
Em vós se encerrou toda a piedade,
Ficou no mundo só toda a crueza,
Por isso cada um deu o que tinha:
Claros sinais de amor, ah, saudade!
Minha consolação, minha firmeza,
Chagas do meu Senhor, redenção minha.
in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler, Lisboa, Campanha Nacional de Educação de Adultos, 1956, pp. 24-25.
Lido na sessão de 4 de Dezembro de 2015.
29 de dezembro de 2015
ÀS CHAGAS, Frei Agostinho da Cruz
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7 de dezembro de 2015
Ary dos Santos, 78
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2 de dezembro de 2015
VINTE E QUATRO HORAS NA VIDA DE UMA MULHER
"Nesse momento, do interior, a chave deslizou na fechadura e o porteiro do hotel abriu a porta.
-Vem daí! - disse então, bruscamente, o rapaz, numa voz dura, decidida, irritada.
Eu senti em volta do meu pulso o anel de ferro dos seus dedos. Fiquei transida de medo, de tal modo paralisada, como se um raio me tivesse fulminado ou me tivesse feito perder a cabeça.
Quis defender-me, soltar-me... mas a minha vontade estava inerte... e eu... o senhor compreende... tive vergonha diante do porteiro - que se mostrava impaciente - de estar para ali a discutir com um estranho. E assim... assim... encontrei-me, de súbito, dentro do hotel. Quis falar, dizer qualquer coisa, mas a voz abafou-se-me na garganta."
Até sexta!
"Nesse momento, do interior, a chave deslizou na fechadura e o porteiro do hotel abriu a porta.
-Vem daí! - disse então, bruscamente, o rapaz, numa voz dura, decidida, irritada.
Eu senti em volta do meu pulso o anel de ferro dos seus dedos. Fiquei transida de medo, de tal modo paralisada, como se um raio me tivesse fulminado ou me tivesse feito perder a cabeça.
Quis defender-me, soltar-me... mas a minha vontade estava inerte... e eu... o senhor compreende... tive vergonha diante do porteiro - que se mostrava impaciente - de estar para ali a discutir com um estranho. E assim... assim... encontrei-me, de súbito, dentro do hotel. Quis falar, dizer qualquer coisa, mas a voz abafou-se-me na garganta."
Até sexta!
9 de novembro de 2015
Turguénev, 197
6 de novembro de 2015
assim começa EVA
«O que ameaçava ser uma gelada noite de Inverno já caía sobre Lisboa e ainda Luís Henriques e eu buscávamos a Mãe d'Água e uma taberna que lhe tinham recomendado, mas apenas se lembrava de ter a emblemática designação de Chafariz do Vinho.»
Germano Almeida, Eva, Lisboa, Editorial Caminho, 2006.
3 de novembro de 2015
29 de outubro de 2015
nova edição de TERRA FRIA
12 de outubro de 2015
A CASA BRANCA NAU PRETA ...
Álvaro de Campos imaginado por Almada Negreiros (do painel de azulejos na entrada da Faculdade de Letras de Lisboa)
Poema lido na sessão de Felicidade na Austrália, de Liberto Cruz. O título do livro foi extraído do último verso do poema. Ver aqui:
2 de outubro de 2015
Liberto Cruz, FELICIDADE NA AUSTRÁLIA
Um livro de contos transbordante de humor, por vezes felliniano, mas também com uma idiossincrasia muito portuguesa. À memória chegaram-me passagens de O que Diz Molero, de Dinis Machado, e a «Trilogia dos Cafés», de Álvaro Guerra.
Liberto Cruz, mais conhecido como ensaísta e investigador literário (Júlio Dinis, Ruben A., Blaise Cendrars) e poeta, traz para a literatura portuguesa uma nova região literária: não a Austrália -- o título é retirado dum verso do Pessoa/Álvaro de Campos, citado em epígrafe --, não o país dos cangurus, mas o «Estado Independente de Penaferrim», ele próprio um microcosmos do Portugal do tempo do Estado Novo. Liberto Cruz, nascido há oitenta anos na conhecida freguesia sintrense de São Pedro de Penaferrim, ficciona as suas memórias do lugar com um distanciamento nada nostálgico -- ou, se alguma nostalgia puder vislumbrar-se, estará filtrada pelo estranhamento do tempo e da distância, a distância de quem tem mais mundos, outros mundos.
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1 de outubro de 2015
Felicidade na Austrália
Para a sessão de amanhã, o início dos contos de Felicidade na Austrália, de Liberto Cruz:
O moço do cego: «Faltava um mês para a corrida pedestre Légua de Penaferrim e o Figueiredo já tinha preenchido duas folhas de papel com o nome dos apostadores.»
A última ceia: «Conheci o Benjamim Baleia quando ninguém lhe chamava marquês, nem morava num palacete.»
O eléctrico: «Quando a Carlota, a mais velha das irmãs Prazeres, apareceu grávida, ninguém se inquietou em Penaferrim: estavam habituados ao forrobodó daquela família.»
Deolinda: «Ao entrar no segundo ano de viuvez, Deolinda da Silveira Lopes interrompeu o luto pelo seu defunto marido, Delfim Serrano Lopes.»
A casa de pasto: «Havia três tabernas em Penaferrim quando o Vasco Pé Curto abriu uma casa de pasto na antiga barbearia do Azevedo Costa, falecido sem deixar herdeiros.»
A condessa: «Devia ter uns doze ou treze anos, quando conheci a condessa.»
Dois cavalos e um boi: «Primeiro foram as cartas anónimas.»
Sete sopas: «Numa tarde chuvosa de Dezembro, estava o regedor de Penaferrim a jogar à bisca na taberna do Gaguinhas quando o ajudante da Junta de Freguesia interompeu a partida.»
Os falsos pides: «No dia 27 de Julho de 1974, a polícia militar prendeu o droguista Crispim na casa de um compadre onde festejava o aniversário da afilhada.»
Cabeça e pés: «Libânio Patrocínio Alves dos Reis Alvarenga era conhecido em Penaferrim pelo Cabeça Grande.»
Júlio Petróleo: «Tinham o mesmo nome: Júlio.»
Os gémeos: «Num fim de tarde, de uma Primavera quente, as gémeas Clara e Lúcia Fradinho disseram aos pais que gostariam de casar no dia de S. Pedro.»
É a vida: «Entre dois copos de vinho tinto, o Paulino Casinhas disse, na taberna do Fonseca, que ia emigrar para França, mas ninguém lhe prestou atenção.»
Adolfo versus Bife: «O Adolfo não era Alemão nem o Bife era Inglês.»
Liberto Cruz, Felicidade na Austrália, Lisboa, Editorial Estampa, 2014.
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23 de setembro de 2015
«A LÃ E A NEVE, de Ferreira de Castro: a História escreve-se no presente»
Será o tema da minha comunicação no Museu Ferreira de Castro (25, sexta, pelas 18 horas -- estão todos convidados), no âmbito das Jornadas Europeias do Património, este ano dedicado ao Património Industrial.
11 de setembro de 2015
C O N V I T E
Tenho a honra de
convidar para o lançamento do livro Linhas Entre Nós, que será
apresentado no dia 19 de setembro, sábado, às 16H30, no Auditório
da Biblioteca Municipal de Sintra – Casa Mantero – Rua Gomes de
Amorim, 12 – 2710-569 Sintra.
A sessão será
enriquecida com atos culturais e recreativos, seguida de “uma
jeropiga de honra”.
J. A. Marcos Serra
(j.a.marcosserra@gmail.com)
Informações
complementares:
- estacionamento
gratuito no Largo dos Serviços Municipalizados (frente às Finanças
e ao SMAS), ou entre o Centro Cultural Olga Cadaval e a Biblioteca,
na rua Câmara Pestana.
- confluência a
partir das 16H00
- não é necessário
imprimir o Convite
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4 de setembro de 2015
um dos grandes romances portugueses
Quando é que percebemos que um romance é um grande romance? Quando ao fim das primeiras vinte ou trinta páginas verificamos duas coisas: o autor dando muito (ou tudo...) de si, dádiva que recebemos por vezes até com algum pudor; e quando o estilo é um profundo e honesto trabalho sobre a escrita, muitas vezes na corda bamba, pois a literatura com L tem de estar sempre nesse patamar elevado em que o autor a si próprio se desafia.
Vem isto a propósito do romance de João de Melo, Gente Feliz com Lágrimas (1988), saga (ou anti-saga) duma família açoriana. Irmãos com infâncias fechadas e trabalhosas, tiranizadas pelas idiossincrasias paternas; a saída da ilha (uma fuga, no fundo), seminário e convento, guerra em África, emigração para a América, desenraizamento. Alguns triunfos com amargos de boca, na escrita ou na vida. A narrativa flui a várias vozes, a personagem principal, Nuno, seminarista expulso, depois professor e escritor; mas também alguns irmãos, cada um dando a sua perspectiva ao leitor; Nuno e Marta, depois (ex-)marido e (ex-)mulher; e Nuno e o seu duplo, Rui Zinho, pseudónimo com que assina a obra literária.
É um dos grandes romances portugueses do século XX, de extrema poeticidade, elaborando sobre a passagem do tempo, onde, apesar das lágrimas, se vai à procura de alguma felicidade imaginada, construída para além dos traumas.
(postado primeiro aqui: http://12x25.blogspot.pt/2014/06/leituras-de-2014-29-gente-feliz-com.html)
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José Luís Peixoto, 41
19 de agosto de 2015
MANHÃS DE INFÂNCIA
Ter-te nas mãos em concha ó Serra
de Sintra verde pomba mansa de heras
manhãs de infância hibernadas
pitosporo a exalar primaveras
paralelas obsessivas derramadas
no tempo escorregadio voz e violino rosto à janela
manto inconsútil nómada sobre castelo e bosques
morrinha orvalho lágrima chorada
pelo coração do mar.
SEM MOLDURA
Maria Almira Medina
11 de agosto de 2015
LINHAS ENTRE NÓS
Sessenta
anos depois de ter começado a ler, arrisquei publicar, em livro, uns
pedaços do que escrevi.
Resultou,
do arrojo, LINHAS ENTRE NÓS, como primeiro trabalho a solo.
Amores
congénitos o motivaram sem reservas. Cuidados paternais o
desbastaram, até quase à dor.
Deixo
o fruto…
(histórias
de gente e da terra, e sentimentos perenes)
…
à apreciação de quem sabe ler.
Vai
nascer oficialmente, em Manteigas, terra-berço, em 15 de agosto, às
21H30, no Ninho de Empresas, espaço agradável para escutar música
e palavras.
Sintra
o reconfirmará, em 19 de setembro, no Auditório da Biblioteca
Municipal (Casa Mantero), às 16H30.
Entretanto,
deixo-lhes: https://youtu.be/jzre7xtQ4rY
J.
A. Marcos Serra
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30 de julho de 2015
Patrick Modiano, 70
6 de julho de 2015
À NOITE DE NATAL, Frei Agostinho da Cruz
Era noite de inverno longa e fria,
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha cor, que ter soía.
Quando nas palhas duma estrebaria,
Entre dois animais brutos lançado,
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino Jesus pobre jazia.
-- Meu amor, meu amor, porque quereis
(Dizia Sua Mãe) nesta aspereza
Acrescentar-me as dores que passais?
Aqui nestes meus braços estareis;
Que, se Vos força amor sofrer crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha cor, que ter soía.
Quando nas palhas duma estrebaria,
Entre dois animais brutos lançado,
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino Jesus pobre jazia.
-- Meu amor, meu amor, porque quereis
(Dizia Sua Mãe) nesta aspereza
Acrescentar-me as dores que passais?
Aqui nestes meus braços estareis;
Que, se Vos força amor sofrer crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.
Poesias Selectas de Frei Agostinho da Cruz, edição de Augusto C. Pires de Lima, 2.ª ed., Porto, Editorial Domingos Barreira, s.d., pp. 41-42.
(lido na sesão de 3 de Julho de 2015)
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5 de julho de 2015
Mia Couto, 60
2 de julho de 2015
um parágrafo de O NOVIÇO
«O lume nunca se extinguia de todo na lareira, o que fazia com que da chaminé da cozinha escapasse perenemente para a atmosfera um farrapo de fumo, qual minúsculo e já roto lábaro, assinalando ao longe, perdido na serra, o pequeno eremitério. Mesmo durante a noite havia sempre um tição aceso na favila: sendo preciso amornar um púcaro de água ou atear o pavio de uma vela, bastava soprar na cinza e logo uma centelha sorria.»
Fernando Faria, O Noviço, Lisboa, By The Book, 2015, p. 94 -- em debate no Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro, amanhã, 3 de Julho, pelas 18 horas.
Hermann Hesse, 138
1 de julho de 2015
O poema inacabado de Bentinho, em Dom Casmurro
Sem virtudes notórias, o soneto brincalhão, com que pretendi parodiar a paixão de Bentinho, personagem notável de Machado de Assis, tinha ficado no seu habitat natural, entre outros papeis sem futuro.
Aí morreria se o Confrade Fernando Faria não me tivesse instado, de viva voz, a dar-lhe luz, referindo desafio já feito em Comentário que me escapara.
Dois pensamentos acudiram à testa:
"sincera-mente!"
"como bom Noviço, faz o que te indicam."
Pego então no primeiro verso e nos dois últimos, em alternativa.
OH! FLOR DO CÉU! OH FLOR CÂNDIDA E PURA,
Porque me escondes esse olhar candente?
C'um piscar de olho, seria contente
E largaria, aos pés, esta tortura.
Para os meus males essa era a cura
Deste doer... pior que dor de dente.
Vá! Não te rias, que me pões doente.
Olha p'ra mim: vê quanta ternura!
Que bom seria nós os dois, juntinhos,
A rebolarmos entre flores e palha,
As mãos tecendo mil e um carinhos!
Assim, arisca... ai que Deus me valha!
Mato-me: um tiro e vou para os anjinhos...
PERDE-SE A VIDA, GANHA-SE A BATALHA
ou, respeitando a alternativa de "Bentinho de Assis"
Assim, amen!, nada há que valha
A esta sede louca de beijinhos.
GANHA-SE A VIDA, PERDE-SE A BATALHA
Aí morreria se o Confrade Fernando Faria não me tivesse instado, de viva voz, a dar-lhe luz, referindo desafio já feito em Comentário que me escapara.
Dois pensamentos acudiram à testa:
"sincera-mente!"
"como bom Noviço, faz o que te indicam."
Pego então no primeiro verso e nos dois últimos, em alternativa.
OH! FLOR DO CÉU! OH FLOR CÂNDIDA E PURA,
Porque me escondes esse olhar candente?
C'um piscar de olho, seria contente
E largaria, aos pés, esta tortura.
Para os meus males essa era a cura
Deste doer... pior que dor de dente.
Vá! Não te rias, que me pões doente.
Olha p'ra mim: vê quanta ternura!
Que bom seria nós os dois, juntinhos,
A rebolarmos entre flores e palha,
As mãos tecendo mil e um carinhos!
Assim, arisca... ai que Deus me valha!
Mato-me: um tiro e vou para os anjinhos...
PERDE-SE A VIDA, GANHA-SE A BATALHA
ou, respeitando a alternativa de "Bentinho de Assis"
Assim, amen!, nada há que valha
A esta sede louca de beijinhos.
GANHA-SE A VIDA, PERDE-SE A BATALHA
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13 de junho de 2015
A propósito de uma efeméride... (13 de Junho de 1888)
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
É tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto maias longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
9 de junho de 2015
CÍRCULO VICIOSO, Machado de Assis
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:
- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
in Evaristo Pontes dos Santos, Antologia Portuguesa e Brasileira, Porto, 1974, p. 84
(lido na sessão de 5 de Junho)
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2 de junho de 2015
o início de DOM CASMURRO
«Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.»
Machado de Assis, Dom Casmurro (1900)
Machado de Assis, Dom Casmurro (1900)
26 de maio de 2015
Ruben A. / Ruben Andresen Leitão, 95
Ruben A. (que assinava os seus trabalhos historiográficos com o nome civil,
Ruben Andresen Leitão, nasceu em Lisboa, em 26 de Maio de 1920
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Ruben Andresen Leitão
20 de maio de 2015
Sérgio Luís de Carvalho fala sobre O INSTINTO SUPREMO
Sérgio Luís de Carvalho, Prémio Ferreira de Castro de Ficção Narrativa / 1989
com o romance Anno Domini 1348
«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois»
22 de Maio, sexta-feira, pelas 19 h.
no
Musa - Museu das Artes de Sintra
tel: 219238828
capa da 1.ª edição (1968) vinheta da capa de Artur Bual |
19 de maio de 2015
2 poemas de Hermann Hesse
UM ENXAME DE MOSQUITOS
Se agrupam ávidos e avançam
Em círculos trémulos
Desenfreadamente divertidos
Uma hora e logo sumidos
No delírio se esgotam zubinando
De pura alegria da morte.
Impérios decadentes e arruinados,
Tronos dourados desaparecidos
Na voragem da noite e da lenda, sem deixar traço,
Jamais conheçeram dança tão frenética.
NA NÉVOA
Como é estranho andar no nevoeiro!
Sòzinha a pedra e a planta,
Uma árvore não vê a outra,
Solidão tanta.
Muitos amigos eu tinha
No tempo da vida viva;
Agora que a névoa cai,
De tudo a vista me priva.
Nada sabe quem não sabe
Como a treva nos separa
De tudo e todos, tão doce,
Inescapável, avara.
Como é estranho andar no nevoeiro!
A vida é solitude -- não adianta.
Ninguém conhece um outro.
Solidão tanta.
in Jorge de Sena, Poesia do Século XX, 2.ª ed., Coimbra, Fora do Texto, 1994, pp. 190-192
(lido na sessão de 8 de Maio de 2015)
16 de maio de 2015
A propósito de Siddhartha
Na caminhada lenta pelo Bhagavad-Gítá...
(versão com versículos em sânscrito, transcrição fonética e tradução em português, comentada por Swami Prabhupáda)
... encontrei a páginas 689:
"Às vezes, o modo de bondade se torna preeminente, derrotando os modos da paixão e da ignorância..."
A explicação do especialista, afirma:
"Embora existam estes três modos da natureza material, se o homem for determinado, poderá ser abençoado com o modo de bondade, e, transcendendo o modo de bondade, poderá situar-se em bondade pura, que se chama o estado vasudeva, um estado em que se pode compreender a ciência de Deus...
Vasudeva recorda-lhes alguém?
Não restam dúvidas que Hermann Hesse sabia mesmo do que escrevia.
Recomendo que não procurem mais sobre o assunto, porque, de certeza, vão encontrar muito mais.
(versão com versículos em sânscrito, transcrição fonética e tradução em português, comentada por Swami Prabhupáda)
... encontrei a páginas 689:
"Às vezes, o modo de bondade se torna preeminente, derrotando os modos da paixão e da ignorância..."
A explicação do especialista, afirma:
"Embora existam estes três modos da natureza material, se o homem for determinado, poderá ser abençoado com o modo de bondade, e, transcendendo o modo de bondade, poderá situar-se em bondade pura, que se chama o estado vasudeva, um estado em que se pode compreender a ciência de Deus...
Vasudeva recorda-lhes alguém?
Não restam dúvidas que Hermann Hesse sabia mesmo do que escrevia.
Recomendo que não procurem mais sobre o assunto, porque, de certeza, vão encontrar muito mais.
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13 de maio de 2015
José Manuel Mendes fala sobre A CURVA DA ESTRADA
12 de maio de 2015
Manuel Alegre, 79
11 de maio de 2015
Camilo José Cela, 99
Camilo José Cela nasceu em Padfrón, A Corunha,
em 11 de Maio de 1916
3 de maio de 2015
MANOEL DE OLIVEIRA E FERREIRA DE CASTRO
Ver, entre 40:40 e 41:10, as imagens em que aparece o livro "O Instinto Supremo". -- Conforme informação do Prof. Pedro Calheiros, ontem, nos III ENCONTROS FERREIRA DE CASTRO.
23 de abril de 2015
OS PREZADOS CONFRADES DO CLUBE DE LEITURA ESTÃO TODOS CONVIDADOS!
"No dia 3 de Maio de 1560, perante uma pequena multidão de fiéis e com a assistência das mais altas figuras da realeza, foi inaugurado na Serra de Sintra, numa cerimónia de comedida solenidade, o convento arrábido de Santa Cruz ou da Cortiça.
Entre a meia-dúzia de futuros ocupantes do novo ermitério, edificado por entre enormes fragas no coração daquele que é conhecido desde a antiguidade como o Monte da Lua, achava-se um jovem poeta, de auspicioso futuro: chamava-se Agostinho Pimenta, fora educado para fidalgo e ficaria na História como frei Agostinho da Cruz.
Alicerçado em (escassos) dados históricos, este romance, para além de propor à imaginação do leitor o que pode ter sido a fundação, inauguração e primeiro ano de vida fradesca no agora arruinado Convento dos Capuchos de Sintra, constitui uma reflexão acerca da pureza do ideal monástico."
Abraço "tertuliano"!
Fernando Faria
22 de abril de 2015
Cristina Leimart fala sobre os contos de Ferreira de Castro
«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois»
24 de Abril, sexta-feira, pelas 19 h.
no
Museu Ferreira de Castro
tel: 219238828
19 de abril de 2015
FERREIRA DE CASTRO E JOSÉ RÉGIO
FERREIRA DE
CASTRO sobre “Poemas de Deus e do Diabo” (1925), de José Régio. A edição
recente de “Quasi Edições” reproduz a capa original de Júlio: as tentações da
alma – mundo, diabo e carne – sob o olho de Deus.
Crítica publicada
no nº 301, de 22/4/1926, do magazine “ABC”:
«É um poeta,
um autêntico poeta, este José Régio que agora solta o primeiro grito desde o
campo, até aqui silente, do seu anonimato» – diz FERREIRA DE CASTRO. Acrescentando: «José
Régio, sem estar abertamente situado sobre os cubos ultraístas, é, contudo, um
poeta moderno – um temperamento que procura, inquietamente, as novas formas.»
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Poemas de Deus e do Diabo
17 de abril de 2015
FERREIRA DE CASTRO E AS PÁLPEBRAS FEMININAS
“O encanto das
pálpebras femininas”, artigo de FERREIRA DE CASTRO publicado no nº 224 da
revista ABC, de 30/10/1924, de que era director Rocha Martins:
«São as pálpebras a quarta maravilha da mulher: – depois das mãos, dos seios e dos lábios, as pálpebras encerram o quarto segredo do encanto feminino.
Eu amo as pálpebras mais do que os olhos: – e estes sem elas seriam apenas dois globos perdidos, errantes, eternamente rolando entre as serranias do rosto.»
«São as pálpebras a quarta maravilha da mulher: – depois das mãos, dos seios e dos lábios, as pálpebras encerram o quarto segredo do encanto feminino.
Eu amo as pálpebras mais do que os olhos: – e estes sem elas seriam apenas dois globos perdidos, errantes, eternamente rolando entre as serranias do rosto.»
FERREIRA DE CASTRO
colaborou vastamente na revista ABC: contos curtos, novelas, crítica de
livros e teatro, artigos de opinião e investigação.
Em outro artigo do
mesmo ano (nº 230, de 11/12), “As atitudes da mulher que lê “, o escritor volta
a referir-se às pálpebras femininas:
«A mim, pessoalmente,
mais do que ser lido pelas mulheres, interessa-me ver as mulheres lerem.
Há um estranho encanto
nas mulheres que lêem: – e a contemplá-las, em silêncio, eu me quedo longo
tempo.
Eu amo ver as pálpebras
femininas distenderem-se como duas pétalas, semicerrando-se sobre os olhos – já
convergidos para um livro.»
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Rocha Martins
12 de abril de 2015
APRESENTO-VOS "O NOVIÇO", O MEU NOVO LIVRO!
Um excerto:
"Chegara o Inverno. Precoce. Chuvoso. Sombrio. Havia muito que na serra se apagara o colorido radioso das longas tardes estivais. Da sépia dos melancólicos crepúsculos de Outono quase nem sinais houvera. Em matéria de cores [ou falta delas], o que agora se via era um persistente tom de cinza, feito de brumas e neblinas, que embaciava os penhascos, ocultando-os dias e semanas a fio, como se tivessem sido abandonados ou esquecidos dos deuses. Num lento e silencioso processo de declínio, as folhas dos carvalhos e dos castanheiros da cerca, de verdes haviam-se tornado amarelas, depois vermelhas e finalmente castanho-escuras, acabando por se desprender uma a uma, num nostálgico ritual de despedida. Mortas, apodrecem agora lentamente no chão, em redor dos troncos negros, prontas para o sacrifício da química transformação e do inevitável ao seio da mãe-terra, para um novo ciclo. Com um pouco de sorte, talvez um dia, numa nova e futura Primavera, voltem a ser, outra vez, quem sabe, folhas verdes ou tenras hastes."
(Fernando Faria)
9 de abril de 2015
«Nenhum de nós é um só homem»
...pensa Don Alvaro Soriano (ao lado, de charuto, representado por Bernardo Marques, na capa da 11.ª edição), em pleno e mortificante debate com o filho Enrique e o velho amigo Pepe Martinez -- frase chave de A Curva da Estrada, romance de 1950, ainda hoje tão actual. Hoje e enquanto houver seres humanos, com as suas fraqueza e paixões.
(amanhã será dia de conversar a propósito)
(amanhã será dia de conversar a propósito)
6 de abril de 2015
25 de março de 2015
Bruno Vieira Amaral fala sobre A MISSÃO, de Ferreira de Castro
17 de março de 2015
Filomena Marona Beja fala sobre A TEMPESTADE
«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois»
sexta-feira, 20 de Março, 19 h.
Museu Ferreira de Castro, Sintra
dcul.museu.fcastro.@cm-sintra.pt
(tel: 219238828)
sexta-feira, 20 de Março, 19 h.
Museu Ferreira de Castro, Sintra
dcul.museu.fcastro.@cm-sintra.pt
(tel: 219238828)
capa da 1.ª edição (1940), por Jorge Barradas |
12 de março de 2015
Raul Brandão, 148
6 de março de 2015
uma grande frase de ÁGUAS DA PRIMAVERA, de Turguénev
«Pensando bem, não há no mundo nada mais forte -- nem mais impotente -- do que a palavra»
Ivan Turguénev, Aguas da Primavera, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Lisboa, Relógio d'Água, 2010, p. 59.
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Águas da Primavera,
Ivan Turguénev
18 de fevereiro de 2015
Filomena Oliveira fala sobre SIM, UMA DÚVIDA BASTA
«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois». No Museu Ferreira de Castro, sexta-feira, 20 de Fevereiro, pelas 19 horas.
informações: dcul.museu.fcastro@cm-sintra.pt;
tel.: 219238828
retrato de Ferreira de Castro, por Elena Muriel (1937) |
12 de fevereiro de 2015
H. Lopes de Mendonça, 159
Lisboa, 12 de Fevereiro de 1856
11 de fevereiro de 2015
Miguel Real fala sobre A EXPERIÊNCIA
13 de Fevereiro, 19 horas, no Musa - Museu das Artes de Sintra
informações: dcul.museu.fcastro@cm-sintra.pt;
tel.: 219238828
capa da 1:ª edição autónoma do romance (2014) por Susana Villar |
10 de fevereiro de 2015
Bertolt Brecht, 117
Augsburgo, 10 de Fevereiro de 1898
6 de fevereiro de 2015
o início de TEORIA DOS LIMITES
«Não não, disse, e continuou a andar, seguindo os homens que levavam o caixão aos ombros, por entre jazigos com inscrições de amor e saudade eternos e campas com flores murchas e ar abandonado, e apertou-lhes ainda mais as mãos, a agradecer o cuidado e a ternura.»
Maria Manuel Viana, Teoria dos Limites, Lisboa, Teodolito, 2014.
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incipit,
Maria Manuel Viana,
Teoria dos Limites
4 de fevereiro de 2015
João de Barros, 134
Figueira da Foz, 4 de Fevereiro de 1881
3 de fevereiro de 2015
Paul Auster, 68
31 de janeiro de 2015
EURICO DE SOUSA, POETA
Nasceu no Funchal em 1933. Foi arquitecto e professor do
ensino secundário. Poeta, pertenceu à geração de 50, a de Herberto Helder, com
quem conviveu de perto. A sua obra poética está representada em A Festa Sendo em Agosto (1980), com
ilustrações da inspiradíssima pintora Alice de Sousa, sua irmã , e Disgrafia Florestal (1995) . Surge,
também, em vários livros colectivos: O
Natal na Voz dos Poetas Madeirenses (1989); Poet’Arte 90; Olhares Atlânticos/Poesia da Ilha (mostra das
artes e letras da Madeira, BN, 1991); e, na antologia Ilha-5,(2008) com um núcleo de poemas denominados As marés como vínculo da memória.
Conviveu com a minha
geração, no segundo lustre da década de 70. Participou connosco nas Exposições de Poesia Ilustrada, no
Teatro de Baltazar Dias, no Funchal. Manteve na década de 80 na RDP-Madeira um
programa, importante, para a divulgação e reflexão da poesia moderna integrando
nesta as vertentes da poesia insular portuguesa
lendo aos microfones desta estação emissora os seus elucidativos ensaios.
Direi, numa opinião
muito pessoal, que, a sua poesia faz lembrar algum Helder: a exploração das
imagens em movimento, o objecto-poema, os objectos no espaço e no tempo, a tensão que
se estabelece entre criador e leitor onde os seres e as coisas evoluem. Helder, em carta que lhe escreveu em 1980
disse ser Eurico de Sousa “ um dos
pouquíssimos poetas vivos portugueses” na medida em que o poeta refaz
imperativamente o mundo. Por sua vez, Frias Martins, em 1984, considerou-o, de uma discursividade redundante (Poesia em Portugal 1974-1984, Leitura de uma
década).
Aqui, fica em sua
homenagem, de A Festa Sendo em Agosto
um poema,
A Cor
“Ora se nos é dada a
mobilidade das lâmpadas//roçagantes anémonas//entre o casario iluminando-o/rápida
luz descendo a terra contornando/os sulcos da alegria cavalgando até ao mar// Protege-te
do sol maldito – vês como tudo volta/ao silêncio? Esta visão se sobrepõe ao teu
corpo/Seres e coisas se movem vertiginosamente/troca-se os pares dispõem-se as
janelas/Rotativo é o céu por sobre as nossas cabeças//ondulam os barcos no
porto ondulam//o sangue hibernante”.
Ontem o telefone tocou. A voz da escritora Irene Lucília
anunciou-me que o poeta escolheu as nuvens para morada dos seus poemas.
30 de janeiro de 2015
Castelao, 129
29 de janeiro de 2015
LEITURAS DAS QUARTAS...
«A menina não palavreava. Nenhuma vogal lhe saía, seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. Era uma língua só dela, um dialecto pessoal e intransmixível? Por muito que se aplicassem, os pais não conseguiam percepção da menina. Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma. Não é que fosse muda. Falava em língua que nem há nesta actual humanidade. Havia quem pensasse que ela cantasse. Que se diga, sua voz era bela de encantar. Mesmo sem entender nada, as pessoas ficavam presas na entonação. E era tão tocante que havia sempre quem chorasse.
Seu pai muito lhe dedicava afeição e aflição. Uma noite lhe apertou as mãozinhas e implorou, certo que falava sozinho:
- Fala comigo, filha!
Os olhos dele deslizaram. A menina beijou a lágrima. Gostoseou aquela lágrima salgada e disse:
- Mar...
Do conto "A menina sem palavras". Lido na sessão de 28-1-2015
«A menina não palavreava. Nenhuma vogal lhe saía, seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. Era uma língua só dela, um dialecto pessoal e intransmixível? Por muito que se aplicassem, os pais não conseguiam percepção da menina. Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma. Não é que fosse muda. Falava em língua que nem há nesta actual humanidade. Havia quem pensasse que ela cantasse. Que se diga, sua voz era bela de encantar. Mesmo sem entender nada, as pessoas ficavam presas na entonação. E era tão tocante que havia sempre quem chorasse.
Seu pai muito lhe dedicava afeição e aflição. Uma noite lhe apertou as mãozinhas e implorou, certo que falava sozinho:
- Fala comigo, filha!
Os olhos dele deslizaram. A menina beijou a lágrima. Gostoseou aquela lágrima salgada e disse:
- Mar...
Do conto "A menina sem palavras". Lido na sessão de 28-1-2015
de Bertolt Brecht
Estes que aqui vêem
são os delatores. Por três vinténs
vendem seu vizinho.
Que são conhecidos
bem no sabem; mas a gente
lembrar-se-á sempre?
A noite dormem-na mal --
-- muitos dias há
antes do dia final.
Poema em epígrafe ao quadro «A denúncia», in O Terror e a Miséria no terceiro Reich, tradução de Fiama Hasse Pais Brandão, Lisboa, Portugália Editora, s.d., p. 13,
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