Trindade Coelho, Os Meus Amores [1891], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.
A Curva dos Livros
Blog do Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro
16 de dezembro de 2024
as aberturas de OS MEUS AMORES
13 de dezembro de 2024
as aberturas de CONTOS EXEMPLARES
Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares [1962], 4.ª ed., Lisboa, Portugália, s.d.
12 de dezembro de 2024
as aberturas de PALAVRAS NÓMADAS
Dora Nunes Gago, Palavras Nómadas, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2023.
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10 de dezembro de 2024
Pelo Tejo vai-se para o mundo (04)
pedra-de-toque #11
«Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária.»
Machado de Assis, «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884)
8 de dezembro de 2024
101 poemas portugueses #56
POEMA DA VOZ QUE ESCUTA
Chamam-me lá em baixo.
São as coisas que não puderam decorar-me:
As que ficaram a mirar-me longamente
E não acreditaram;
As que sem coração, no relâmpago do grito,
Não poderam colher-me.
Chamam-me lá em baixo,
Quase ao nível do mar, quase à beira do mar,
Onde a multidão formiga
Sem saber nadar.
Chamam-me lá em baixo
Onde tudo é vigoroso e opaco pelo dia adiante
E transparente e desgraçado e vil
Quando a noite vem, criança distraída,
Que debilmente apaga os traços brancos
Deste quadro negro -- a Vida.
Chamam-me lá em baixo:
Voz de coisas, voz de luta.
É uma voz que estala e mansamente cala
E me escuta.
Março de 1939
Políbio Gomes dos Santos (Ansião, 1911-1939)
A Voz que Escuta (1944)
6 de dezembro de 2024
29 de novembro de 2024
101 poemas portugueses - #55
SONETO
Eu tenho a pagar 10 e na carteira
Apenas tenho 8. Eis a arrelia.
Eis-me buscando em mente uma maneira
De pagar o que devo em demasia.
E fico às vezes nisto todo o dia,
Um dia inteirinho em estúpida canseira.
Se busco distrair-me, de vigia,
Olha-me a rir a dívida grosseira.
E entretanto na rua vão passando
Carros de luxo, altivos salpicando
O lodaçal dos trilhos sobre mim...
E sinto, na revolta, o algarismo,
Do trono do brutal capitalismo,
A rir de nós, os bobos do festim!
Rui de Noronha (Lourenço Marques [Maputo], 1906-1943),
in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban III (1996)
25 de novembro de 2024
pedra de toque #10
«Almas, desesperos, ambições, impotências -- e a trégua desta noite, em volta da lareira.»
Ferreira de Castro, «O Natal em Ossela», (1932/1974), Os Fragmentos
24 de novembro de 2024
101 POEMAS PORTUGUESES . #54
INSTANTE
A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro
A pastar ao de leve.
Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer
E a vida
Pára também, a ver.
Miguel Torga (São Martinho de Anta, Sabrosa, 1907 - Coimbra, 1995)
Diário I (1941)
15 de novembro de 2024
pedra de toque - #9
«Mary virara-se outra vez de costas e Giovanni quis adivinhar-lhe a direcção dos olhos, acompanhá-los depois no voo extasiado que terminava na torre do Palazzo Vecchio.»
Augusto Abelaira, A Cidade das Flores, 1959
13 de novembro de 2024
101 poemas portugueses - #53
PARTIR!,,,
Já sei de cor os passos de cada dia,
na boca as mesmas palavras
batidas nos meus ouvidos...
-- Ai as desgraças humanas destas paisagens iguais!...
Abro os olhos e não vejo
já não ando, já não oiço...
Não posso mais...
Grita-me a Vida de longe
e eu vou-me embora para além do Tejo.
Passa a ave no céu bebendo azul e diz: Vem!
O vento envolve-me numa carícia,
envolve-me e murmura: -- Vem!
As ondas estalam nas praias e vão mar fora,
as mãos de espuma a prender-me os sentidos
chamam no fundo dos meus olhos: -- Vem!
-- Camaradas, eu vou, esperai um pouco...
Ai, mas a vida nunca espera por ninguém...
E a noite chega vingadora;
o vento rasga-me o fato,
as ondas molham-me a carne
e a ave pia misticamente no ar;
abro os olhos e não vejo,
já não ando, já não oiço
-- e fico, desgraçado de ficar!...
7 de novembro de 2024
pedra-de-toque #8
«Súbito, uma revoada de vozes escapou-se em surdina do âmago da igreja e derramou pelo claustros o clamor inquietante duma dolência arrastada.»
Manuel Ribeiro, A Catedral, 1920
29 de outubro de 2024
pedra-de-toque #7
«O automóvel roda apressado, galgando covas, trepidando, queixando-se da aspereza do caminho.»
Adelino Mendes, «A cidade d'Albert», A Capital, Lisboa, 29-III-1917
27 de outubro de 2024
101 poemas portugueses - #52
TRISTÍSSIMA CANÇÃO
22 de outubro de 2024
pedra-de-toque #6
«É um pobre -- é um pobre de pedir --, é um fantasma.»
Raul Brandão, O Pobre de Pedir, póst., 1931
21 de outubro de 2024
pedra-de-toque #5
«À beira da estrada, as duas filas de altas e esbeltas árvores, martirizadas pelo frio, parecem sentinelas que não se fatigam nunca, guardando e vigiando este pedaço de terra francesa...»
Adelino Mendes, «A cidade d'Albert», A Capital, Lisboa, 29-III-1917
19 de outubro de 2024
17 de outubro de 2024
Pedra-de-toque #4
«A obra em si mesmo é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.»
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
16 de outubro de 2024
101 poemas portugueses - #51
CANTAM AO LONGE
Cantam ao longe. Anoitece.
Faz frio pensar na vida;
E a Natureza parece
Dizer, em voz comovida,
Que o Homem não a merece.
Carlos Queirós (1907-1949),
Desaparecido (1935)
15 de outubro de 2024
O certo é que, esta manhã, ao fazer a minha habitual visita à loja da Bertrand do Allegro de Sintra, dei com este novo romance de Miguel Real (aliás, apetitoso). E não é que uma das primeiras páginas é ocupada com este poema do nosso ilustre confrade do C.L.M.F.C., Manuel Nunes, sendo encimada com a nota: "O mais belo poema sobre Jesus escrito em Portugal em 2023".
Muito justo destaque. Mais do que um privilégio, é um orgulho para mim partilhar aquele cenáculo com Manuel de Matos Nunes!
14 de outubro de 2024
Pedra-de-toque #3
«Ele pertencia à família dos Milhanos de Marinhais, sempre famosos no Ribatejo como arrozeiros sabidos e safos de mândria.»
Alves Redol, Gaibéus, 1939
11 de outubro de 2024
Pedra-de-toque #2
«E era o único grito que quebrava o silêncio, também volátil, das velhas árvores em êxtase.»
Ferreira de Castro, Emigrantes, 1928
10 de outubro de 2024
Pedra-de-toque #1
«A água vinha de longe por uma caleira de pedra, e era sua uma toada tão leda e inquebrantável, que parecia mesmo a pulsação do silêncio.»
Aquilino Ribeiro, A Via Sinuosa, 1918
5 de outubro de 2024
Poesia Portuguesa (04)
4 de outubro de 2024
o início de GENTE COMUM - UMA HISTÓRIA NA PIDE
2 de outubro de 2024
101 poemas portugueses - #50
POEMA DO CÃO AO ENTARDECER
Um cão no areal corria presto.
23 de setembro de 2024
101 poemas portugueses - #49
RECREIO
Na claridade da manhã primaveril,
Ao lado da brancura lavada da escola,
As crianças confraternizam com a alegria das aves...
A mão doce do vento afaga-lhes os cabelos,
E o sol abre-lhes rosas nas faces saudáveis
-- Um sol discreto que se esconde às vezes entre nuvens brancas...
As meninas dançam de roda e cantam
As suas cantigas simples, de sentido obscuro e incerto,
Acompanhadas de gestos senhoris e graves.
Os rapazes correm sem tino e travam lutas,
Gritam entusiasmados o amor espontâneo à vida,
A vida que vai chegando despercebida e breve...
E a jovem mestra olha todos enlevadamente,
Com um sorriso misterioso nos lábios tristes...
Alberto de Serpa (Porto, 1906-1992),
in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler (1956)
16 de setembro de 2024
o inicio de A VIAGEM PARA A LITERATURA -- OU O DESTINO DE FERREIRA DE DE CASTRO
13 de setembro de 2024
101 poemas portugueses - #48
NASCIMENTO
A minha égua lazã
Teve uma linda cria,
Nascida antemanhã,
Mal, ao de leve, despontava o dia...
Cá fora,
Na placidez da hora enregelada e fria,
Silenciosa e deserta
A terra dormitava.
E pela porta aberta
Da velha estrebaria,
Um hálito de vida se escapava
E, como fumo, manso se perdia.
Sombras de uma lanterna fraca
Dançavam, ágeis, na parede escura.
E brandamente,
Naquela luz opaca,
Tudo envolvia uma doçura quente.
Sobre a palha doirada,
Enquanto o sol aos poucos
Ia surgindo à porta,
A mãe jazia, agora descansada.
E a dois passos, imóvel e estirada,
A cria parecia ter nascido
Pra logo ficar morta,
O corpo já doído
Do trabalho da vida começada.
Venho assomar-me à porta,
A contemplar o meu amigo dia.
E o campo, todo branco de geada,
Brilha até onde a minha vista alcança...
E, infantilidade,
Ou despropositada poesia,
O nascimento, a hora, a luz do dia,
Dão-me um fecundo amanhecer de esperança.
Francisco Bugalho (Porto, 1905 - Castelo de Vide, 1949)
presença #51, Coimbra, Março de 1938,