Maria Judite de Carvalho, Flores ao Telefone (1968), Obras Completas III, Coimbra, Minotauro, 2024.
A Curva dos Livros
Blog do Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro
3 de novembro de 2025
as aberturas de FLORES AO TELEFONE
31 de outubro de 2025
NOVAS CARTAS PORTUGUESAS, a alegria da literatura
A meio da releitura, pensava como a literatura nos pode preencher.
Novas Cartas Portuguesas não é apenas um dos grandes livros do século passado, obrigatório numa lista muito curta; atrevo-me a escrever que se trata de um dos grandes livros da nossa história literária, em forma e fundo.
Apesar de não estar tipificado quanto ao género literário -- pois que tudo esta obra encerra -- não me repugna nada arrumá-lo (gosto de arrumações) ou inscrevê-lo como romance. Estarei certo, errado, certo e errado?
Livro feminista -- na mais nobre acepção do termo, que outra não deveria haver --, percebemos que 1972 é passado. Mas quão passado é?
Dois pontos para debate, no próximo dia 7.
16 de outubro de 2025
101 poemas portugueses - #71
QUOTIDIANO
As mulheres afadigam-se
a estender a migalha de sargaço
que a nortada trouxe à beirada.
Mesmo à mão, sem graveta.
Interrompo o meu cerzir de escrita
e abarco-as num golpe de olhar.
Longe, num rosal de espumas,
cruzam-se duas traineirinhas:
uma entra, em direcção à Póvoa,
outra sai, rumo ao largo.
Luísa Dacosta (Vila Real, 1927 - Matosinhos, 2015),
A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)
15 de outubro de 2025
O(s) Egipto(s) de Eça de Queirós e Ferreira de Castro
.jpg)
9 de outubro de 2025
as aberturas de CONTOS BÁRBAROS
João de Araújo Correia, Contos Bárbaros [1939], 8.ª ed., Lisboa, Âncora Editora, 2023.
3 de outubro de 2025
RELEITURAS EM FÉRIAS 3
Detesto o abuso ilimitado e sem vergonha da expressão «é único», para impingir banalidades numa sociedade que (quase) conseguiu exaurir o significado das palavras, mas encontro-me numa situação em que me questiono como hei de classificar o livro de António Lobato, LIBERDADE OU EVASÃO.
É que é mesmo único: e particularmente para mim.
Reli-o pela terceira vez - o que é já sintomático - e decidi propô-lo para leitura no nosso Clube, agora que foi feita mais uma edição.
Esperam que lhes descreva o conteúdo? Não vou fazê-lo. O desafio da leitura perderia com isso.
Deixo apenas alumas notas pessoais.
Por via de danças palacianas do sec.XVI, que a esposa dirigia, conheci o António e tornámo-nos amigos: próximos.
Quando ele foi libertado, era eu enfermeiro militar em Neurocirurgia e Neuropsiquiatria, e acolhi militares que tinham vindo da Operação Mar Verde, o que me levou a tomar conhecimento de factos de alto secretismo, ao tempo.
Por acaso da História, um conterrâneo amigo esteve envolvido no ato de abertura do portão que colocou o António Lobato numa liberdade... condicionada. Omito o nome por respeito à privacidade.
Conheciam-se, e quando comuniquei ao ZP que o Major Lobato tinha morrido, respondeu apenas com uma expressão perturbadíssima: «já sabia». Não me revelou como.
Desafio feito, encerro assim as minha pequenas crónicas de Releituras.
2 de outubro de 2025
25 de setembro de 2025
RELEITURAS EM FÉRIAS 2
Visitar (ou re-revisitar) Burgos sem esquadrinhar a sua catedral, por fora e por dentro, sempre na expetativa de descobrir mais um pormenor que escapara, é como ir à Capela Sistina... e esquecer-se de levantar os olhos para o teto.
E os que têm gosto por História não se livram da compulsão de tentar dar sentido a tudo e encher de informação os principais relevos, recantos e dimensões.
É este modo de sentir que me reconduziu a mão para o livro do escritor e professor de História Medieval, José Luís Corral, O NÚMERO DE DEUS, que nos envolve nos tempos em que a catedral começa a elevar-se aos céus, até atingir toda a sua beleza grandiosa, numa competição sadia com as de Chartres, Leon, Paris... e menos sadia entre alguns homens.
Interessante pela história, atraente pelo romance, ganhei por ter relido com gosto, além do que recordei e aprendi.
Fica a partilha e o desafio.
15 de setembro de 2025
as aberturas de PALAVRAS NÓMADAS
Dora Nunes Gago, Palavras Nómadas, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2023.
.../...
14 de setembro de 2025
RELEITURAS EM FÉRIAS 1
Tempo mais livre que o habitual e estante menos disponível à vista, levaram-me a reler obras que tinham permanecido no arquivo da memória.História pura e pormenorizada, abrangendo os anos de 1947 e 48, ajuda a entender toda a evolução da relação entre o novo estado de Israel e todos os seus vizinhos, imediatos ou próximos.
E talvez, desesperadamente, a concluir que, se algo humano, e consequentemente transitório, é eterno, será o conflito a que assistimos.
E, sob a névoa do tempo e do esquecimento, quem são os responsáveis reais, que se mantêm alheados, como se não tivessem sido eles a acender a faísca do desastre e do ódio.
Não me alongo; recomendo vivamente a quem o tema interesse.
7 de setembro de 2025
o início de O PRÍNCIPE COM ORELHAS DE BURRO
3 de agosto de 2025
as aberturas de OS MEUS AMORES
Trindade Coelho, Os Meus Amores [1891], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.
30 de julho de 2025
101 poemas portugueses - #70
ARRÁBIDA
22 de julho de 2025
101 poemas portugueses - #69
O ÚLTIMO ADEUS DUM COMBATENTE
Naquela tarde em que eu parti e tu ficaste
sentimos, fundo, os dois a mágoa da saudade.
Por ver-te as lágrimas sangrarem de verdade
sofri na alma um amargor quando choraste.
Ao despedir-me eu trouxe a dor que tu levaste!
Nem só o teu amor me traz a felicidade.
Quando parti foi por amar a Humanidade
Sim! foi por isso que parti e tu ficaste!
Mas se pensares que eu não parti e a mim te deste
será a dor e a tristeza de perder-me
unicamente um pesadelo que tiveste.
Mas se jamais do teu amor posso esquecer-me
e se fui eu aquele a quem tu mais quiseste
que eu conserve em ti a esperança de rever-me!
Vasco Cabral (Farim, Guiné-Bissau, 1926 - Bissau, 2005) ,
in Sophia de Mello Breyner Andresen, Primeiro Livro de Poesia (1991)
18 de julho de 2025
as aberturas de BICHOS
Miguel Torga, Bichos (1940), 19.ª ed, Coimbra, 1995
16 de julho de 2025
101 poemas portugueses - #68
VÓS QUE OCUPAIS A NOSSA TERRA
É preciso não perder
de vista as crianças que brincam:
a cobra preta passeia fardada
à porta das nossas casas.
Derrubam as árvores fruta-pão
para que passemos fome
e vigiam as estradas
receando a fuga do cacau.
A tragédia já a conhecemos:
a cubata incendiada,
o telhado de andala flamejando
e o cheiro do fumo misturando-se
ao cheiro do andu
e ao cheiro da morte.
Nós nos conhecemos e sabemos,
tomamos chá do gabão,
arrancamos a casca do cajueiro.
E vós, apenas desbotadas
máscaras do homem,
apenas esvaziados fantasmas do homem?
Vós que ocupais a nossa terra?
Maria Manuela Margarido (Roça Olímpia, Ilha do Príncipe, 1925 - Lisboa, 2007)
Poetas de S. Tomé e Príncipe (1963) /in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban II (1976)
30 de junho de 2025
101 poemas portugueses - #67
NOSSO É O MAR
Nosso é o mar. Nosso e renosso.
Pla dor, pla teimosia, pela esperança.
Nosso até onde a vista o não alcança.
Nosso até onde é nosso o que for nosso.
Mas depois de o ter ganho abandonámos
alma e corpo à fadiga de o ter ganho.
Bartolomeu, não olhes. Não despertes
do sono que te dorme há cinco séculos.
Já o gume das quilhas não fecunda
teu ventre feminino, Mar aberto.
Falsa energia a nossa! Desflorado
teu sexo, Mar, aos corvos o cedemos.
Voluptuosa e saudável, tua carne
é convite e oferta como dantes.
Nós, mortos! Nós, sem força! Nós, sem fogo,
de uma saudade mole possuídos!
Sebastião da Gama Vila Nogueira de Azeitão, 1924 - Lisboa, 1952)
Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953)
17 de junho de 2025
o início de TORTO ARADO
5 de junho de 2025
101 poemas portugueses - #66
Quando aqueles que chegavam
olhavam os que partiam
os que partiam choravam
os que ficavam sorriam
28 de maio de 2025
101 poemas portugueses - #64
PRIMAVERA DE BALAS
Agarro
Na minha última humilhação
E sem ir embora da minha terra
Emigro para o Norte de Moçambique
Com uma primavera de balas ao ombro.
E lá
No Norte almoço raízes
Bebo restos de chuva onde bebem os bichos
No descanso em vez da minha primavera de balas
Pego no cabo da minha primavera de milhos
E faço machamba ou se for preciso
Rastejar sobre os cotovelos
E os joelhos
Rastejo.
Depois
Escondido em posição no meio do mato
Com a minha primavera de balas apontada
Faço desabrochar no dólman do sr. Capitão
As mais vermelhas flores florindo
O duro preço da nossa bela
Liberdade reconquistada
Aos tiros!
José Craveirinha (Lourenço Marques / Maputo, 1922 - Joanesburgo, 2003)
in Manuel Ferreira, No Reino de Caliban III
6 de maio de 2025
o início de TERRA FRIA
4 de maio de 2025
1 de maio de 2025
MAIOS
As giestas voltaram a florir. Regressaram os maios.
Pela cidade (nova) em flor correm os mensageiros dos maios novos. Dos maios que prometem. Nas cartas de flores um carimbo de urgente. Ao pescoço uma mensagem. Um cordão. Um cordão de flores ( frescas) de maio.flores de giesta ( amarelinha). E as pessoas. Coisas e animais cheiram a maios diferentes. Maios que prometem. Que sorriem. Ao pescoço das crianças e dos velhos uma mensagem. Um cordão. Pelas estradas do meu país muitos cordões de maio.as giestasvoltaram a florir.regressaram os maios.
Maios, in Ilha, poesia 2000, Funchal 1975
Poema de minha autoria cuja forma original não consegui reproduzir integralmente. Não consegui fotografar. Contudo, interessa-me, no dia de hoje de enorme significado em todas as culturas, e, de um modo muito especial com conteúdos mistico profanos na Ilha em que nasci, por celebrar-se tb a procissão do Voto, desde o sec XV, promessa da edilidade funchalense a S Teago Menor, para livrar a cidade da peste negra, interessa-me dizia-me particularmente a mensagem. Quanto a conteúdos literários deverá ser lido em várias dimensões inclusivé a motivação. O motivo são as crianças paupérrimas na berma das estradas que no dia de hoje, infalivelmente, ofereciam cordões de giestas a quem passava nos seus faustosos automóveis recreando-se em dia tão ameno.
29 de abril de 2025
101 poemas portugueses - #65
NOCTURNO DE LISBOA
Pela noite adiante, com a morte na algibeira,
cada homem procura um rio para dormir,
e com os pés na lua ou num grão de areia
enrola-se no sono que lhe quer fugir.
Cada sonho morre às mãos doutro sonho.
Dez-réis de amor foram gastos a esperar.
O céu que nos promete um anjo bêbado
é um colchão sujo num quinto andar.
Eugénio de Andrade (Póvoa de Atalaia, Fundão, 1923 - Porto, 2005)
Os Amantes sem Dinheiro (1950)
22 de abril de 2025
101 poemas portugueses - #63
CÉU DE SAUDADES
No céu unido dos dias como o de hoje
Que há neles que se afasta e foge?
Que é este cinzento das lousas do meu Douro
Que só encontro nas asas dos pombos bravos
Que distância me acena como leve mão de afagos
Daquela Mãe para quem eu era o seu menino de ouro.
Joaquim Gomes Mota (Tabuaço, 1922 - Estoril, 1992)
Pássaro Azul (1993)
11 de abril de 2025
o início de AUTOBIOGRAFIA DE JESUS
31 de março de 2025
"Ribatejo e Estremadura -- Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção"
Colecção que tem como principal coordenadora a nossa colega Ana Cristina Carvalho, o volumes respeitante ao Ribatejo e à Estremadura será apresentado no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, no próximo sábado, pelas 16 horas.
27 de março de 2025
101 poemas portugueses - #62
QUATRO
(Em memória do grande Amigo
Joaquim Manuel Maia de Jesus)
A rosa vermelha última a que te prendeste
A rosa vermelha nas mãos duma menina
Aquela maçã que tu deste e não comeste
E nestes quatro versos está a tua sina
Partiu-se a lua num quarto desesperado
E entrou louca pelo quatro vidros do hospital
Quatro homens levaram teu corpo gelado
E a menina escondeu duas mãos no avental
Ali na encruzilhada de todos os ventos
Tristes contando às ondas tão triste nova
Braços de pinheiros bravos foram lamentos
À rosa dos ventos lendo a verdade toda
Só aquela cadela que corria ao luar
Anda a uivar pelos caminhos a tua morte
São quatro patas pelo chão a caminhar
Arrastando a raiva humana da tua sorte.
Matilde Rosa Araújo (Lisboa, 1921-2010),
As Folhas de Poesia Távola Redonda
(edição de António Manuel Couto Viana, 1988)
17 de março de 2025
"Ferreira de Castro lido por Jaime Brasil"
9 de março de 2025
101 poemas portugueses - #61
NATAL DE POBRES
Quando a mulher adormeceu
naquela noite de Natal,
o homem foi, pé ante pé,
pôr um sapato (dela, não seu)
com um embrulho de jornal
na lareirinha da chaminé.
Um casal pobre... um ano mau...
Era um pedaço de bacalhau.
Ora alta noite, pela janela,
com fome e frio, entrou um gato
que, no escuro, cheirando aquela
comida boa no sapato,
rasgou o embrulho, comeu, comeu
e, quente e farto, adormeceu.
De manhã cedo, ela acordou,
foi à cozinha e viu o gatinho
adormecido no seu sapato.
Voltando ao quarto, feliz, falou
para o seu homem: -- Meu amorzinho,
como soubeste que eu queria um gato?
Leonel Neves (Faro, 1921 - Odiáxere, Lagos, 1996),
O Menino e as Estrelas (1979)


.jpg)










%20(1).png)
%20(1).png)
%20(1).png)





















