31 de dezembro de 2011

para ler em silêncio

Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vem uma imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu. À frente caminham os porcos, de cabeça baixa, rasando o chão com o focinho. O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô.


José Saramago, As Pequenas Memórias, Lisboa, Editorial Caminho, 2006, p. 129.
(imagem)

2 comentários:

  1. curisoso...se me quero lembrar de alguém que já cá não está, imagino-o num passo que se aproxima, titubeante ou decidido, sorrindo ou sisudo, conforme o caso e a natureza de humores. essa confluência de caminhos resumo o nosso encontro.

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