20 de janeiro de 2022

VATES (4)

De ANTÓNIO GEDEÃO, da obra Linhas de Força (1967) - na qual se encontram "Poema do coração", "Poema para Galileo", "Poema da buganvília", "Catedral de Burgos", "Lição sobre a água" e outros poemas bem conhecidos -, esta "Carta aberta"  que é a enunciação de uma arte poética da poesia moderna:

CARTA ABERTA

Um homem progride, blindado e hirsuto
como um porco-espinho.
É o poeta no seu reduto
abrindo caminho.
Abrindo caminho com passos serenos
e clava na mão,
que as noites são grandes e os dias pequenos
nesta criação.

Esmagando as boninas, os cravos e os lírios,
cortando as carótidas às aves canoras.
Chegaram as horas
de acender os círios,
de velar as ninfas no estreito caixão,
de enterrar as frases e as vozes incautas,
de oferecer a Lua para os astronautas
e as rosas fragrantes à destilação. 

1 comentário: