3 de novembro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (27)

 

A MORTE É QUE ESTÁ MORTA

 

                                                          Para José Régio

 

A morte é que está morta.

Ela é aquela Princesa Adormecida

no seu claro jazigo de cristal.

Aquela a quem, um dia – enfim – despertarás…

 

E o que esperavas ser teu suspiro final

é o teu primeiro beijo nupcial!

 

– Mas como é que eu te receava tanto

(no teu encantamento lhe dirás)

e como podes ser assim – tão bela?

Nas tantas buscas, em que me perdi,

vejo que cada amor tinha um pouco de ti…

 

E ela, sorrindo, compassiva e calma:

 

– E tu, porque é que me chamas Morte?

Eu sou, apenas, tua Alma…

 

MARIO QUINTANA, Apontamentos de História Sobrenatural (1976)


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