25 de novembro de 2023

TEM DIAS XIII



 Pergunto


Pergunto pelos braços

que neste campo

eram barcos e trigo,

sémen e ovários.


- Longe, despertam,

respiram, cantam.


Pergunto pelas velas

que nesta praia

eram fome que ao vento

ganhava asas.


- Longe, iluminam

diferentes águas.


Pergunto pelo canto

que nas searas

não era esta cinza

de acerbos cardos.


- Longe, celebra

a nossa raiva.


Pergunto pelos corpos

que nestas camas

se lavravam até

florir crianças.


-Amam, germinam.

Mas tão distantes !


Serão as naves

do novo sangue?



JOSÉ BENTO, in Movimento (cadernos de poesia & crítica) , Funchal, 1973.


3 comentários:

  1. Inédito de José Bento incluído no n⁰1 e único de Movimento, revista de poesia & crítica sob a coordenação de A.J.Vieira de Freitas. 8 poetas completam esta edição, a saber: Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Pedro Tamen, José Bento, A. J. Vieira de Freitas, José Agostinho Baptista, José António Gonçalves, e, Gualdino Rodrigues.
    Revista , que, em ano crítico por natureza veio trazer um folego novo
    aos mornos e caricatos ares locais ainda sob a moribunda e falaciosa inspiração de 50 projectando a poesia para novos tempos sem perca das autênticas referências. Como escrevia V. Freitas "plantar uma flor no deserto".

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  2. Grande elenco (não conheço os últimos dois). Bom poema do José Bento, nesse tempo crepuscular e heróico, o de plantar flores no deserto.

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